terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Focault, sexualidade e "Scrub Daddy"

Todos os natais eu e a minha irmã temos sempre dificuldade em oferecer prendas aos nossos pais. É sempre aquela conversa de “o que é que achas que eles precisam?” mesmo sabendo que não precisam de nada a que o nosso poder de compra consiga chegar. 

Há pouco tempo abriram 3 lojas de uma cadeia europeia denominada de Normal. A marca diz “vender produtos normais a preços anormais”. Abriu uma na rotunda de Entre-Campos, mais tarde uma num dos centros comerciais do Saldanha e por fim outra no centro comercial do Campo Pequeno. Isto num curto espaço de 3 a 4 meses e tudo concentrado na zona das Avenidas Novas. Devo ter ido à de Entre Campos em setembro a pedido da minha irmã que queria muito ver a loja e, na falta de amigos com quem ir, escolheu-me a mim. 


Na altura a minha irmã reparou numas esponjas que, segundo ela, eram virais no TikTok. Tinham a aparência amarela de uma esponja normal para lavar a loiça, mas em formato de smile: “Scrub Daddy”. Confesso que a loja me deixou extremamente desconfortável por ter luzes brancas muito fortes e ser quase um labirinto onde temos apenas um caminho a seguir, por isso nem liguei muito a esse produto e apenas agradeci quando saímos. Senti que aquela loja era quase a materialização do capitalismo.


Chegando então a aproximação do Natal a minha irmã lembrou-se que podíamos oferecer aos nossos pais aquelas esponjas e informou-me que existia também a “Scrub Mommy” que era amarela de um lado e rosa do outro e o desenho não era exatamente o mesmo, tendo a versão feminina um laço na cabeça. Ou seja como o nome diz “Scrub Daddy” para o meu pai e “Scrub Mommy” para a minha mãe.

Como não fazia ideia do que presentear os meus pais com, aceitei de bom grado a ideia da minha irmã. No entanto, veio-me logo o seguinte pensamento à cabeça “Eu vou dar esponjas aos meus pais no Natal”. Ri-me para mim mesma e pensei logo que nunca me passaria isso pela cabeça. Talvez os fizesse rir também. Ao mesmo tempo, veio o me à cabeça o quão estranho seria se lhe oferecesse duas esponjas normais das que se vendem nos supermercados. Certamente não iam gostar e achar que era uma piada de mau gosto ou pelo menos não era algo que os fosse fazer rir.


Foi aí que fiz a associação com o texto de Michel Foucault, Poder e Sexualidade de que falamos em aula. Claramente a compra destas esponjas foi influenciada pela segmentação do produto a diferentes consumidores. Como já referi, a probabilidade de oferecer uma esponja que não seja segmentada pelo género era muito mais pequena, para não dizer nula.


Pelos vistos as distinções de género também se fazem nas esponjas para a cozinha…