domingo, 8 de dezembro de 2024

Mais uma máquina ‘wicked’ de fazer dinheiro

É cada vez mais comum assistirmos ao lançamento de grandes produções cinematográficas, envolvendo imensos recursos visuais e promocionais, que nos são vendidas como experiências únicas. Mas será que tudo isto não passa, na verdade, de mais um negócio camuflado? Ou até mesmo de um enorme cenário de marketing?

Ao ver o novo filme ‘Wicked’, esperava algo simples e encantador, quase como uma homenagem ao clássico ‘Feiticeiro de Oz’. Um novo olhar sobre as personagens, uma perspetiva mais humana ou, quem sabe, um tributo ao filme original. Mas no final, senti que a história estava esticada e que o produto final não era mais do que o primeiro passo de uma série de filmes programados para nos manter presos ao ciclo de consumo e merchandising.

E notou-se logo em alguns sinais: baldes de pipocas “exclusivos”, pintados em duas cores, alusivos ao filme (ou saga?) por 12€, quando um balde normal custaria metade. E assim se constroem estas estratégias, direcionadas a quem, por impulso ou deslumbramento, acaba por pagar o dobro por um objeto que, fora do contexto, vale pouco. É um ambiente pensado ao pormenor, onde o público é incentivado a gastar mais, a colecionar, a pertencer a um grupo que possui “o balde especial”.

No que toca ao filme entrei sem grandes expectativas e saí com a sensação de ter sido envolvido num esquema bem montado. Todos naquela sala sentimos que a história poderia ter sido contada num só filme, sem arrastar enredos nem deixar pontas soltas para um segundo volume “obrigatório”. Até porque o filme tem cerca de 3 horas. 

Mas a verdade é que, hoje em dia, a indústria não parece estar autorizada a fazer simplesmente um bom filme. Tem sempre de haver uma máquina por trás, um plano de marketing que assegure a viabilidade financeira, que crie expectativas para a próxima estreia, que leve o espectador a voltar a pagar o bilhete e a comprar mais um balde de pipocas “especial”.

Claro que a probabilidade de um filme ser realmente apenas uma peça de arte, com a inocência e a simplicidade do passado, ainda existe. Mas hoje em dia, esses casos parecem cada vez mais raros. E um caso raro, é já um caso a menos do que o desejado.

Mas impõe-se a questão: Teremos que deixar de consumir cinema? Será que a culpa é dos estúdios ou do público, que continua a alimentar esta máquina de consumo? 

É certo que este tipo de mecanismos já existia antes: recordações, merchandising, edições especiais. Mas vivemos numa era em que a ilusão de grandeza de um filme não raramente se sobrepõe ao seu conteúdo, e o espectador paga não só para ver, mas também para participar neste circo de consumismo, para sentir-se parte.

Será que estamos a tornar-nos demasiado dependentes destes artifícios, esquecendo que o cinema pode (e deve) ser apenas uma forma de arte?

Talvez o segredo não esteja em deixar de ir ao cinema, mas em fazê-lo com os olhos bem abertos. Porque cada bilhete é uma aposta, e entre a magia autêntica e a máquina de fazer dinheiro, resta-nos escolher conscientemente onde colocamos o nosso investimento emocional e financeiro. Porque afinal de contas, a vida continua a ser feita de escolhas.

PS: “Please, it’s all about popular”.