quarta-feira, 22 de novembro de 2023

A Sociedade e o Mercado da Arte

    Existe uma profunda ligação entre sociedade e fatores que influenciam quem cria e quem está encarregue de interpretar e criar os critérios de valorização da arte. Prova maior é o funcionamento do mercado artístico e a corrente capitalização da arte. 

    Numa sociedade submersa no capitalismo, o conceito de arte tem vindo a sofrer grandes transformações. O objeto artístico, cujo conteúdo era muitas vezes visto como resultado da experiência e identidade única e individual, é hoje frequentemente fruto de um modelo pré-definido resultante dos moldes económicos vigentes. A mentalidade de empreendimento comercial ofusca o que outrora era a criatividade, a consciência e a sensibilidade estética: o artista mainstream cria o objeto não pelo seu valor artístico e cultural, mas pelo valor económico que a sociedade pode atribuir à obra. Esta rutura leva-nos inevitavelmente à mercantilização da arte e consequente tratamento da mesma como mero objeto de investimento. A arte dilui-se passando a ser mais um produto em stock à espera de ser vendido.

    Na economia de mercado livre, a arte está sucessivamente sujeita aos princípios de oferta e procura. A visão da sociedade toldada pelo presente estado avançado do capitalismo tem ditado os critérios das instituições de arte: procuram-se artistas cujas peças de arte sejam populares entre círculos de elite e que simbolizem status. O poder que a sociedade exerce sobre as políticas internas das instituições de arte reflete-se no impacto que estas detêm no mundo da arte e do artista. 

    As instituições de arte têm um papel significativo na escolha de obras e na determinação do seu sucesso no mercado, sendo habitual o público atribuir maior valor a um objeto pertencente a um projeto curatorial ou acervo de instituição influente. Esta concentração de poder na esfera artística leva à imergência de novas normas e trends de mercado e resulta na inflação de obras de determinados períodos e estilos. Muitos artistas sentem-se condicionados e descartam a sua visão artística para criar peças que se alinhem com as trends do mercado e colecionadores de arte adquirem obras potencialmente lucrativas em vez de obras que realmente gostariam de ter na sua coleção. Cria-se assim uma exclusividade e elitismo artístico que limita a diversidade e estagna a inovação. 

    O monopólio de arte perpetua a ausência de liberdade artística: a arte ao submeter-se perde o seu significado enquanto expressão própria, única e individual. Tal como Giorgio Agamben afirma, o artista torna-se no indivíduo sem conteúdo, aquele que não tem outra identidade senão um perpetuo emergir da inexistência de expressão