domingo, 14 de janeiro de 2024
Sexo, Genero e Rótulos binários
terça-feira, 9 de janeiro de 2024
Guilty steps Bordalo II
A obra guilty steps de Bordalo II choca pela sua simplicidade e impacto profundo. Trata-se de uma crítica feroz à indiferença vivida no contexto da sociedade atual no que respeita à guerra e aos direitos humanos e interpela o público questionando o valor das nossas ações individuais.
Este estilo direto de abordagem ativista é já característico
de Bordalo II, como podemos observar ao longo dos seus trabalhos mais recentes
sobre temas como o abuso sexual de menores pela igreja católica portuguesa ou a
utilização de dinheiro público para o financiamento das jornadas mundiais da
juventude. Na verdade, todo o seu trabalho se relaciona intensamente com uma
intervenção social, o que é acentuado nomeadamente pela utilização recorrente
de materiais reciclados (recolhidos na rua) nas suas obras e o frequente tema
animal que entrecruza os mundos natural e industrial, com o contraste entre o
impacto visual dos tons vívidos do plástico, com as suas formas trapalhonas e
agudas, e os tons terra esbatidos que quase se misturam com a paisagem. Em
adição a isto, os seus trabalhos têm sempre uma relação intensa com o espaço
urbano tomando parte dele de forma híbrida e orgânica sem nunca perder aquele
impacto característico que chama à atenção.
Estas características fazem-se notar também na sua recente
obra guilty steps a qual ilustra a bandeira da Palestina pintada numa escadaria
à saída da estação de comboios de Santos, em Lisboa. Aqui, o verdadeiro twist
está na interatividade: a tinta da parte vermelha da bandeira encontra-se
fresca de modo a que os passos dos transeuntes vão deixando pequenas pegadas
vermelhas no seu caminho cobrindo o restante da bandeira de vermelho e manchando
a área circundante. A criação foi apresentada na forma de um timelapse
em que assistimos ao apagamento gradual da bandeira Palestina simbolizando
assim o apagamento do seu povo e o rasto de sangue que dele permanece perante
da indiferença mundial e por causa dela.
De um modo geral, esta obra leva-nos a refletir sobre o
verdadeiro potencial da arte urbana enquanto um elemento que vive e interage
com o público e o papel que este pode ter na própria obra e nos assuntos que
lhe dão tema e razão de existir, fechando algum do distanciamento entre a arte
e o seu objeto e mostrando-nos mais uma vez que, como disse Desmond Tutu, ser
neutro em situações de injustiça é estar do lado do opressor.
Um pequeno pensamento acerca de “A quinta dos animais” de George Orwell
A aldeia adormece. O Lobo acorda e jura-te que não és bom. A aldeia adormecida fecha os olhos ao talento e pisca duas vezes ao Lobo em concordância. Como se lágrimas de bocejo fossem atestados de veracidade ao que diz um Lobo Mau. Ora é isso mesmo. Quando a aldeia acorda já as promessas estão prometidas e o Lobo cala os calados. Aldeões acordados valem pouco ou nada perto de totós adormecidos. Canções de embalar são hinos predadores cantados por tiranos impostores. E os patetas encantados sabem o que é sabido e juram que a sua verdade é verdadeira aos acordados, esses mentirosos que distinguem Lobos de Aldeões como parvos de tolos. Na “Quinta dos animais” os porcos triunfaram para matarmos o Lobo Mau e acordarmos a Aldeia lembrando-a da “diferença entre estar comprometido com uma ideia e ser enganado por quem a difunde.”
A Importância da mentira ou a desvalorização da verdade
A mentira não tem perna curta, porque a farsa dá passos largos, a fraude excede distâncias exorbitantes, o embuste chega ao destino sem percalços, o engano é veloz, a “balela” é instantânea e a “peta” sai impune. Neste mundo não sobra espaço para a sinceridade, eterna e virtuosa, que tonta essa lealdade, que acha que transcende o falso, por cima da envergadura da mentira, a verdade tem que voar alto. Mas os pássaros não estão prontos para lidar com transparências, não as contemplam, batem com a cabeça. Eu cá sou peixe, nado na clareza, contudo temo a incoveniência de um “tubarão” honesto ou um “pescador” franco, esses que afligem o “imperfeito”, com uma autenticidade absoluta.
Que o amor não seja invenção e integre a realidade, porque amores momentâneos são as tais “balelas” instântaneas, as paixões permitem fingimentos, mas o coração não inteira desonestidades. Que o “vulnerar” não seja também o verbo para os queridos, como pretexto e em função da fidignidade, se os peixes não pediram para serem pescados.
Quem sabe se os pássaros não começam a ver vidros com cor de sinceridade e se começam a desviar dessas nuvens mentirosas, que de almofadas não têm nada. Eu cá não me deixo repousar na calúnia, se a franqueza for mais confortável.
domingo, 7 de janeiro de 2024
A Escassez de Tempo para a Criatividade
Numa rotina marcada por prazos apertados e uma lista interminável de tarefas, encontro-me diariamente imersa no desafio da escassez de tempo para a criatividade. A pressão constante para cumprir obrigações e responsabilidades muitas vezes sobrepõe-se à oportunidade de explorar ideias novas, deixando-me a pensar como poderei ser criativa no meio da correria do quotidiano.
É fácil perder-me na narrativa da eficiência, onde o tempo é contado e a criatividade parece um luxo dispensável. Mas, ao longo do tempo, percebi que sacrificar a criatividade em prol da produtividade é um preço alto a pagar, pois a inovação acontece quando nos permitimos explorar e experimentar.
A constante abundância de informações digitais também desempenha um papel no desafio pessoal da criatividade. Enquanto as notificações competem pela minha atenção, percebo que o silêncio e a contemplação (elementos essenciais para a criatividade) muitas vezes são deixados em segundo plano.
Reconhecer a falta de tempo para a criatividade é mais do que uma perda pessoal; é uma perda para a expressão individual e a sociedade como um todo. O ato de criar vai além das obrigações profissionais; é um caminho pessoal de autoexpressão e descoberta. Perante este desafio diário, tenho aprendido a priorizar momentos de pausa e reflexão, seja através da exploração de novas formas de arte ou da resolução de problemas pessoais.
Num mundo onde a eficiência muitas vezes dita o ritmo, recordo-me constantemente de que a criatividade é um ato pessoal de resistência contra a monotonia. Navegar pelos desafios da escassez de tempo para a criatividade exige não apenas uma gestão mais consciente do tempo, mas também um compromisso pessoal de preservar o espaço para a inovação no quotidiano.
Desigualdade Digital na Educação
Numa era digital, é lamentável que a educação permaneça dividida entre aqueles que têm fácil acesso à tecnologia e os que ficam à margem desse avanço. Essa disparidade não é apenas uma questão de possuir ou não dispositivos eletrónicos; é uma barreira clara que separa aqueles que têm acesso a oportunidades educacionais modernas e os que são excluídos desse progresso.
A pandemia acentuou essa disparidade, destacando que o ensino remoto não é apenas uma transição para alguns, mas um privilégio digital para muitos. Nesse contexto, a educação, que deveria ser um direito universal, parece mais um privilégio reservado a alguns.
Para enfrentar essa desigualdade, são necessárias ações urgentes e abrangentes. Investir numa infraestrutura de internet em áreas carentes é essencial, assim como garantir que a conectividade seja acessível a todos. Programas eficazes de distribuição de dispositivos são cruciais para assegurar que todos os alunos tenham acesso a ferramentas tecnológicas adequadas. Para além disso, o desenvolvimento de conteúdo educacional inclusivo, que seja acessível em diferentes plataformas e dispositivos, é fundamental para garantir uma aprendizagem equitativa.
A tecnologia deveria ser uma ponte e não um impedimento para a educação. O conhecimento não deve ser um privilégio, mas um direito inalienável de todos. Enfrentar a desigualdade digital na educação não é apenas uma necessidade educacional, mas um passo crucial para construir uma sociedade mais equitativa, onde cada aluno tenha a oportunidade de navegar pelo vasto mundo do conhecimento digital, e é hora de garantir que essa oportunidade não seja reservada a alguns privilegiados, mas seja estendida a todos, sem exceção.