Estudo numa faculdade de engenharia há 4 anos. Neste tempo fui habituado a trabalho constante, intrinsecamente tenso por obra de testes dia sim dia não, de trabalhos de grupo de 3 cadeiras diferente que têm de ser feitos em paralelo e da própria competitividade criada entre todos os alunos. Neste contexto de avaliação constante para alguns torna-se difícil sequer justificar ir às aulas, estas que por não terem presença obrigatória e por muitas focarem-se em conteúdos mais teóricos, essenciais para a formação de bons engenheiros mas maioritariamente acessórias para quem tem o objetivo de ter boas notas e sobreviver à torrente de trabalho. Essas horas de aulas acabam por ser gastas a estudar, ou a aprendermos por nós próprios o que realmente precisamos de aprender.
A minha faculdade tem também no currículo de todos os cursos uma cadeira obrigatória na área das humanidades, artes ou ciências sociais que pode ser escolhida, mediante a concurso, pelo aluno dentro de uma grande lista de opções sendo muitas delas feitas em outras faculdades.
Com vontade de fugir ao stress ao qual já estava acostumado no meu dia-a-dia sempre soube que iria querer fazer esta cadeira fora das paredes a que já estava habituado e tive a agradável surpresa de ter sido colocado na Faculdade de Belas Artes.
Tive a sorte de já lá conhecer duas amiga minhas, que nas primeiras semanas me mostraram a faculdade. Vir de um curso principalmente teórico e ter contacto com uma realidade académica tão prática foi-me um abre olhos gigantesco para o que até ai eu considerava ser a experiência de "andar na faculdade". As conversas que tive com ambas enquanto visitava os vários laboratórios da faculdade sobre os seus trabalhos atuais e projetos do passado mostravam a paixão que tinham pelo que faziam e o quanto gostavam de ter a oportunidade de o estar a fazer. Este tipo de mentalidade entrou em choque com o que estava habituado da minha faculdade, onde existem bastantes alunos que fazem cursos porque "este curso dá dinheiro" e os poucos que entram na faculdade com gosto e vontade de aprender, exceto casos raros, rapidamente o perdem com o passar dos anos.
Durante o resto das semanas de aulas aproveitei a minha vida de turista, não faltei a nenhuma aula e mantinha sempre a mesma rotina: aula, almoço, cigarro e café. Aproveitava o tempo que passava longe das minhas responsabilidades para me envolver num ambiente que para mim me era alienígena mas bastante bem-vindo ao meu dia-a-dia.
O caminho de volta para a minha faculdade era sempre algo bastante penoso, ter de voluntariamente abandonar este meu oásis para ter de voltar à personificação de um inferno pessoal de ansiedade e pressão custava e o facto de o caminho envolver passar 40 minutos dentro de linhas de metro só colabora esta metáfora.
Tenho plena noção que esta minha idealização da FBAUL vem de uma perspetiva de alguém de fora, acredito que os alunos desta faculdade também tenham os seus projetos com "deadlines" apertadas e também tenham avaliações atrás de avaliações que os impossibilitem de descansar mas não é essa a energia transmitida por quem lá anda. Sinto que esta cadeira deu-me oportunidades de não só ter um novo conhecimento sobre uma área de estudo fora da minha especialização mas também me deu oportunidade de me dar a conhecer toda uma nova realidade de possíveis vivências dentro do mundo académico, e isto é algo que não se aprende numa sala de aula.