Com base neste texto de Barthes,
criei uma ponte para um tema atual e que me incomoda de certa maneira. Recolhi
também algumas informações e fiz uma pesquisa por várias notícias que abordam o
tema.
Numa época onde tudo está à
distância de um clique, há muitas perguntas e valores éticos a serem
discutidos. Fazer parte da Gen Z é estar ciente e alerta de todos os pros e
contras de uma exposição quase total de todos nós nas redes sociais. Nunca
estivemos tão conectados às redes, nunca tivemos tanta informação e nunca foi
tão fácil dar uso aos meios, para o bom e para o mal também. Com o uso das
redes sociais e numa época onde nos deparamos com tudo online, desde vidas
fictícias, ao grande mercado, a notícias, entre outros, tudo virou comum para
os olhos dos demais. Todos nós seguimos ou acompanhamos alguém que vive e se
alimenta da internet, os intitulados “influencers”. São pessoas ditos comuns,
vivem a suas vidas normalmente, mas o que lhes dá esse nome é a partilha dos
seus dias nas redes socias. Pode partir de algo banal, como um passeio ou uma
caminhada com o cão, para vivências partilhadas, até chegar ao ramo da
indústria, onde tudo é forma de ganhar dinheiro. Tudo conta, desde
visualizações, comentários, parcerias, eventos e por aí adiante. A internet é a
maquinaria pesada de fazer dinheiro, completamente movida por nós,
espectadores, que alimentamos a nossa vida com base naquilo que vemos e que, de
certa forma, tentamos viver.
Algo que cada vez mais se vê é o
aparecimento de bebés e crianças nas redes sociais. Por vezes começa com os
pais a partilharem a gravidez, que passa para o nascimento, em que a certo
ponto estamos a ver parcerias com marcas de fraldas e chupetas, até aos
primeiros passos e palavras da criança. Quem é a pessoa que resiste a um amável
bebé? Sem dúvida nenhuma que o engajamento é superior a qualquer outro tipo de
partilha. O espectador pode estar apenas curioso, pode sentir alguma empatia,
ficar apenas feliz como também não sabemos se pode ter algum tipo de malícia.
Nunca sabemos quem está por de trás do ecrã e logo aí levantam-se muitas
questões. Será eticamente correto expor uma criança num meio público, criança
essa que não pode dar o seu consentimento, em troca de gostos e de monetizações?
Qual é o limite que separa aquilo que pode ou não ser partilhado nas redes por
parte dos pais sem meter em causa terceiros? Claro que irá sempre existir um
lado positivo da história. Um bom exemplo disso seria de alguém que está a
passar pelas mesmas situações, que poderá assim sentir-se menos sozinho e
aceder a mais informações. Não obstante a isso, como é que sabemos que aquilo
que está no ecrã não é uma romantização da monotonia do dia a dia?
Quando nós adultos partilhamos a
nossa imagem, temos a noção do nosso corpo como nossa propriedade e damos sim o
consentimento de partilha, mas os mais pequenos não o podem fazer. Não é
implícito que esta ação seja feita com maldade, mas quando olhamos a fundo para
a questão, nada é assim tão simples como “é apenas uma publicação”.
Perguntemo-nos como se sentirá uma criança com uns três anos que está na rua e
é reconhecida por gente que nunca viu antes? Pessoas essas que sabem o seu
nome, informações sobre o seu quotidiano, histórias de vida e afins. No mínimo diria
que se sentiria confusa.
Conclui-se assim que em ambas as
situações, na atualidade e no texto de Bichon, embora o elemento centralizado
seja a da criança, essa nunca será a principal beneficiária de toda essa
atenção. Há muito de atual nesta história, permanecendo assim a ideia de
Barthes “As proezas de Bichon são do mesmo tipo das ascensões espetaculares:
demonstrações de natureza ética, que só retiram o seu valor da publicidade que
lhes é dada”.