O 25 de Abril de 1974 é lembrado como o dia que trouxe liberdade e democracia a Portugal. Embora marque a queda do regime que vigorava, uma ditadura que restringia liberdades e direitos fundamentais, a essência do 25 de abril vai muito além de um único dia. Foi uma revolução coletiva, fruto de uma longa resistência com ações concretas, como ocupações de terras, fábricas e outros espaços. As ações, disruptivas e transformadoras, ultrapassavam o simbolismo: eram reivindicações urgentes por mudanças estruturais e justiça social. Foi muito mais do que um evento pacífico…
Contudo, ao longo do tempo, o seu espírito
revolucionário parece ter sido domesticado. Atualmente, a celebração do 25 de
Abril é geralmente reduzida a um ritual vazio, desconectado das lutas sociais
contemporâneas. Um feriado seguro e apolítico, em vez de um chamado à ação. Quando
no fundo, trata-se de um processo contínuo que exige não só reflexão sobre o
presente, mas também ação pelo futuro.
Apesar do 25 de Abril ser socialmente aceite (de uma forma geral), as ações atuais que seguem os seus ideais são frequentemente desvalorizadas, e aqueles que lutam por essas causas são muitas vezes marginalizados e vistos como demasiado “radicais”. A disrupção, que foi o motor da revolução dos cravos, tornou-se socialmente desconfortável quando associada às lutas contemporâneas. São exemplos dessas lutas os movimentos pela justiça climática, pelo direito à habitação e pelos direitos laborais, entre tantos outros que continuam a reivindicar um mundo mais justo e solidário.
Portanto, a verdadeira homenagem ao 25 de abril não se deve esgotar em comemorações nostálgicas, exige também um compromisso. Cada dia deve ser uma oportunidade para viver e construir os seus valores. Festejar abril é aceitar a necessidade de desafiar, questionar e lutar, mesmo quando isso incomoda. Afinal, o 25 de Abril foi, acima de tudo, uma revolução que só se concretizou porque houve quem ousasse agir.