Não me lembro da
primeira vez que me apercebi que já tinha sentido crítico, vá livre-arbítrio, o
primeiro às vezes ainda me falta. Que já conseguia analisar o meu quotidiano, pensar
sobre o que me rodeava e tomar “decisões”, sem precisar de rodinhas. Contudo lembro-me
da forma como me senti, liberdade pura, um infinito de possibilidades e todos
aqueles “devias” ou “tens que” despareceram. Momentos assim são raros, porque
isto é apenas um lado da moeda complexa que é o livre-arbítrio, do outro lado está
uma espécie de niilismo dramatizado. A constante oscilação entre pensamentos:
Às vezes, sinto que a vida é idêntica à descrita
na Insustentável leveza do ser de Kundera, é tão tão leve, que me questiono
se há algo que realmente importe, alguma decisão, alguma ação ou se a norma é
esta leveza passageira, que desaparece de seguida. Juntamente com divagações
pela procura de um peso real ou uma consequência duradoura e quando essa etapa
falha e percebemos que não há grandes expectativas ou responsabilidades a
carregar. Pensamos, wow, que libertador. A vida flui e isso volta-nos a dar
aquela sensação de liberdade. Mas, depois, surge uma sensação de vazio
profundo e daí surgem as perguntas: Porque, se nada tem peso, se nada fica, o que
é que realmente estamos a fazer? Para onde estamos a ir? E não é triste, é
só... estranho. Como se fosse difícil encontrar algo que realmente faça a diferença,
algo que valha a pena.
Surgem então as resoluções:
No fundo, isso faz-me pensar que talvez a busca incessante por um grande
sentido seja apenas uma ilusão.
Há uma sensação
de suspensão, como se estivéssemos a viver sem saber para onde estamos a
caminhar, ou sem saber se vale a pena caminhar em linha reta. E, talvez, esse
vazio não seja uma maldição. No fundo, talvez seja justamente o que nos dá
liberdade para simplesmente ser. Não precisar de uma razão profunda para
existir, não precisar de uma explicação para cada momento. Aceitar que a vida,
tal como ela é e estar bem com isso.
Sem o peso do
"porquê", podemos viver cada momento com mais calma, mais espaço para
ser quem somos, sem pressões. Talvez, a maior paz é aceitar que, embora nada
tenha um grande peso, cada momento, ainda assim é nosso. E isso é suficiente…
Este ciclo de
pensamentos, divagações, liberdade, perguntas e resoluções momentâneas, definem
a leveza e o seu vazio inquietante (a dança do efémero). Para escapar, buscamos
construir alguma coisa de importante, procuramos rotinas e compromissos, queremos
raízes, prendemo-nos à realidade, tudo para sentirmos um propósito neste mundo.
Sem nos aperceber que entramos no ciclo do peso, a leveza e o peso complementam-se,
um liberta-nos do fardo das expectativas e o outro dá-nos substância e prende-nos
à terra. Ainda não vivi suficiente tempo para saber, mas anseio descobrir que passamos
a vida a saltitar de um ciclo para o outro.