terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A inacessibilidade da cultura

A cultura deveria ser acessível a qualquer pessoa, independentemente de classe social, localização geográfica ou condição financeira, no entanto, apresenta-se muitas vezes como algo restrito a um círculo elitizado. Um exemplo claro disso são os museus e exposições. Estes espaços teoricamente são dedicados à aprendizagem, fontes de conhecimento e enriquecimento cultural para toda a sociedade, mas no entanto, acabam por ser lugares exclusivos para uma certa elite social.


Os altos custos de entradas em museus e exposições e a falta de incentivos públicos, fazem com que muitas pessoas não consigam aceder e visitar estes espaços. Os museus cobram, habitualmente, valores elevados para as suas exposições. Torna-os inacessíveis para pessoas que não fazem parte de uma elite, como pessoas da classe trabalhadora ou até pessoas que não vivem em grandes centros urbanos. Parte das pessoas de classe trabalhadora, para além de não terem capacidade económica, dedicam a sua vida a um trabalho das 9 às 17 para poderem sobreviver e não têm oportunidade de visitar estes espaços. Problema este, que se estende ainda ao próprio staff dos museus, cujos horários não permitem uma vida fora do meio de trabalho. Desta forma, a população é mantida numa rotina onde apenas os que privilegiam horários flexíveis conseguem ter acesso a informação e ao mundo cultural.

 É claro que é importante realçar que estes projetos requerem muito investimento e trabalho que tem que ser valorizado, mas deve vir da parte do estado apoiar e valorizar essas iniciativas, de forma a apresentá-las de forma eficaz ao público geral. E felizmente, estas iniciativas a apoiar a arte e a cultura estão cada vez mais presentes. 


A utilização de linguagens mais académicas e intelectuais cria também uma distância do público com a cultura. Muitos museus e exposições, mesmo estando abertos ao público, requerem um certo conhecimento prévio para que as obras apresentadas sejam apreciadas e entendidas pela sua totalidade. Muitas vezes não é apresentado qualquer tipo de contexto ou são apresentadas explicações breves e de difícil interpretação, o que afasta o público que não tem as ferramentas necessárias para respeitar o que vê. Como o observador não entende, encontra-se num ciclo de desinformação, que gera desinteresse. Alguém que procura conhecimento e depara-se com algo inacessível e codificado, sai com uma sensação de alienação e de desconectividade, desvalorizando a exposição e perdendo o interesse para aprender mais.


Desta forma, os museus e exposições são exemplos que demonstram como a cultura pode ser inacessível. Uma experiência cultural, que deveria ser um direito universal, é restrita por um conjunto de fatores, que excluem uma grande parte da sociedade. A verdadeira democratização da cultura, exige uma reavaliação destes fatores, para aproximar todos os níveis sociais e económicos.