sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

A Necessidade de Pertencer

Na pré-história, a sobrevivência dependia do grupo pois caçar, protegerem-se e reproduzir-se eram tarefas impossíveis de se fazer sozinho. Hoje em dia, embora tudo tenha mudado e as nossas necessidades e tarefas sejam diferentes, a necessidade e o impulso para nos conectarmos permanece.

Ao pertencer a algo seja uma família, um grupo de amigos, uma comunidade ou uma ideologia é o que nos dá sentido de identidade, e é também o que nos faz sentir validados e aceites. Esta necessidade tem como objetivo protegermo-nos do isolamento mas também acaba por nos tornar vulneráveis noutros aspetos: como moldar ou até mesmo mudar comportamentos, opiniões e até gostos para agradar ou ser aceites por um grupo, muitas vezes em detrimento da nossa autenticidade.

Apesar desta necessidade ao início ser quase algo instintivo ao longo da nossa evolução tornou-se também uma construção social. Podemos reparar nisso no texto de Fiske sobre a Revista Seventeen que ao apresentar ideais de beleza, comportamento e estilo, ela orienta jovens leitoras sobre como devem ser para corresponder às expectativas de um mundo que as observa; 

Até mesmo no texto de Barthes sobre o novo Citroën que, por mais que não fale neste assunto claramente, na minha opinião, existe nas pessoas que admiravam aquele carro, uma necessidade de pertencer, talvez ao grupo de pessoas de realidades económicas que as permitiam realmente comprar o carro e não só tocá-lo ou talvez ao grupo de pessoas que observava o carro não como objeto mas como arte; 

Qualquer um de nós, ao refletir sobre o nosso dia a dia, poderia dar exemplos de diversos momentos desses, em que nos moldamos para sentir que fazíamos parte de algo maior. Estas são ações naturais mas, na minha opinião, tornou-se uma pressão que só vai aumentando ao longo do tempo, já ao refletirmos sobre a Revista Seventeen conseguimos perceber como pode ser problemático, mas atualmente esse problema só veio a piorar pois, apesar das pessoas lutarem cada vez mais para poderem ser elas mesmas, existe sempre esta imposição para ter um rótulo. Tudo isto deixa-me a pensar: Ao entrarmos neste jogo de nos encaixarmos em vários rótulos estamos a conhecer-nos ou estamos apenas a moldar a nossa identidade para outros, com o objetivo de nos encaixarmos? Será que algum dia esse “pertencimento” será totalmente alcançado ou estamos presos num ciclo de validação? Talvez a resposta seja abandonar os rótulos e simplesmente ser.

Mas será possível abandonar os rótulos?