segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Stream of consciousness IV

    Pois que te escrevo hoje porque reparei que tens o fim do mundo dentro dos olhos perto da íris um amarelo torrado o resto verde verde enfim tu melhor que ninguém saberás da explosão que te adentra infância adolescência etc. anos azuis longe longe. Ontem sonhei que me beijavas e eu faisão já sabes como sou abri muito os olhos esdrúxulos e disse-te Pertences ao mundo das coisas para de tentar ser quem não és. Tu fugiste-me para dentro é claro não tens vergonha nunca tiveste;

    No dia antes desse sonhei-te dois e ao amar-te traí-te lógico; mais no outro sonhei que me "desnamoravas" palavra da minha invenção. Tenho tanto medo de escrever ultimamente que deixes de súbito de gostar dos meus voos picados tristes tristes em torno do teu peito; dormes tão bem adoro ser-te anjo da guarda já que as coisas correm bem e se correrem mal aí redobro os cuidados nunca te deixo ao relento das ideias. Vejo-te o mundo pelos olhos: quem me dera o rio que falta seja ele qual for eu cá tenho as minhas suspeitas. Qual poeta qual quê: ser do tamanho das pedras e não morrer cedo demais;

    Chamo-te homem mulher coisa o que quiseres; a terra é fenda aberta sem melhoras sangue pus crostas etc. Presenciei-te o mundo pelos olhos hoje à hora de almoço. Tu só sabes da beleza as coisas feias não te fazem parte do vocabulário nada faz muito sentido. As árvores crescem e tu na mesma ausente de estações, e eu que invento versos e problemas onde eles não existem; amar é fome eu sei. Tu nunca vais gostar de mim: não assim, pelo menos. Odeio não poder contar-te tudo o que me vai na alma paciência enfim inexisto-me sempre que piscas os olhos para não morrer de ataque cardíaco ou tédio extremo — imagino-me animal cultural que sobe a tua montanha estranha altos e baixos perguntas sem resposta como por ex. com que direito é minha e não tua ou de outra pessoa qualquer esta dor; cada acidente repetido ao expoente de ti, e tu que para além de não me levares a sério também nunca brincas comigo: limbo doce e amargo pedes-me Fecha os olhos e abre a boca; transbordas antíteses: nunca gritaste e gritas;

    Penso o céu teto de estrelas fixas à mesma distância umas das outras sempre cúpulas sobre nós. Preciso de me estreitar mais ainda para perceber bem a imensidão de um beijo teu. Curvo-me envolta em cadernos caneta papel: se nem rascunho narciso perigosamente branco quanto mais texto poema és tudo  — aqui neste mundo não te consigo mostrar algo mais belo que morrer mas noutro, noutro prometo-te o que tu quiseres, desde que não envolva cometer quaisquer crimes ou amar-te mais do que é humanamente possível.