terça-feira, 10 de dezembro de 2024

"Normal People" - Sally Rooney

O livro “Normal People”, romance de Sally Rooney, que segue a relação de Marianne e Connell ao longo dos anos, revela uma profundidade emocional que ressoa com o público. É muito mais do que uma história de amor, é uma reflexão sobre as complexidades das relações humanas, a busca de identidade e vulnerabilidade emocional.

Uma das mensagens mais impactantes do livro é a beleza da vulnerabilidade. Ao longo da história, observamos como ambos enfrentam momentos de fragilidade. Connell está numa luta constante com ansiedade e uma sensação de não-pertencimento, enquanto Marianne carrega cicatrizes de uma vida marcada por relações familiares disfuncionais. Juntos, ao longo da vida e ao longo das suas vivências pessoais, encontram uma espécie de refúgio um no outro. Retrata a importância de se ser visto como realmente somos, sem máscaras ou pretensões. 

É um perfeito exemplo de livro que desmonta a ideia de que o amor é simples ou linear. A relação de Marianne e Connell é marcada tanto por momentos de intensa proximidade, como de separações dolorosas. Apesar de se amarem profundamente, possuem ambos a incapacidade de se comunicar abertamente sobre os seus sentimentos, levando-os assim a magoar-se mutuamente. É uma história que demonstra que o amor nem sempre resolve tudo. Questões de autoestima, trauma e circunstâncias da vida interferem, moldando a dinâmica entre os dois. É uma abordagem realista num panorama mediático muitas vezes saturado por narrativas de “felizes para sempre”.

Para mim, um dos temas mais importantes abordados neste livro, é a forma como as estruturas sociais moldam as nossas relações e a nossa visão de nós mesmos. Marianne e Connell vêm de contextos muito diferentes: ela vem de uma família abastada mas emocionalmente fria e distante, enquanto que ele vem de uma família carinhosa e humilde. Esta disparidade influencia a forma como cada um se sente no mundo - Connell mostra-se inseguro de forma silenciosa por se sentir deslocado nos círculos elitistas de Marianne, enquanto que ela lida com um sentimento de inferioridade profundamente enraizado, desde muito nova. O livro explora essa ideia de que o contexto social pode aproximar ou afastar pessoas, por muito genuína que a ligação seja.

Outro tema central é a busca pela auto-aceitação e pela identidade. Ambos os personagens atravessam momentos em que precisam de redefinir quem são e o que desejam na vida. Marianne, apesar de aparentar ser forte, revela-se vulnerável e em busca de amor e validação. Connell enfrenta o desafio de se libertar das expectativas externas e encontrar o seu lugar no mundo. O autoconhecimento é um processo contínuo e, muitas vezes, doloroso. Aceitar a nossa complexidade é um passo essencial para construir relações verdadeiramente autênticas.

É um livro que nos relembra que as pessoas que passam pela nossa vida, mesmo temporariamente, têm um impacto duradouro. O amor, nas suas variadas formas, molda-nos, transforma-nos e conecta-nos. “Normal People” é uma celebração da conexão humana. 

A profundidade deste livro reside na sua capacidade de capturar a essência do que significa ser humano. Amor, perda, mágoa, redenção — tudo isto está presente, não de forma idealizada, mas de uma maneira crua e autêntica. A mensagem é simples: não existem “pessoas normais”. Todos nós carregamos os nossos sonhos, vulnerabilidades e contradições. É nesta complexidade que reside a beleza da vida e das relações humanas.