Elon Musk está a traçar uma nova era na política norte americana, descrita por Jeffrey A. Winters, professor da Northwestern University e especialista em oligarquias e desigualdade como “We are in an era that I call ‘in-your-face oligarchy”. Enquanto outros bilionários influenciam discretamente campanhas há anos, Musk escolhe um estilo de oligarca americano descarado. Através de ferramentas como os Super PACs (Political Action Commitees), bilionários conseguem financiar campanhas eleitorais americanas sem grandes restrições legais, criando um sistema onde as decisões políticas podem ser influenciadas mais pelos interesses privados do que pelas necessidades da população. A introdução de Musk neste cenário com a quantia de 260 milhões de dólares doados ao America Pac, torna-o o maior doador político declarado de Donald Trump e coloca-o no centro do poder, “substituindo JD Vance, como o verdadeiro vice-presidente sombra de Trump durante a sua campanha”. Tudo isto levanta questões fundamentais sobre o futuro da democracia americana. Como afirmou Jason Seawright, professor de ciência política da Northwestern University: “We’ve never really seen anyone be that directly connected with a campaign unless they were the candidate.” A aliança entre Trump e Musk mostra como o financiamento político vai remodelar rapidamente a democracia americana, com Donald Trump já a sugerir que Musk lidere o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), o empresário ultrapassou facilmente o papel tradicional de financiador político para se tornar numa figura com potencial influência direta em políticas governamentais. Junto com o bilionário Vivek Ramaswamy, Musk promete cortar em 2 biliões de dólares o orçamento federal, concentrando-se em agências regulatórias que, segundo ele, "atrapalham" setores como construção e tecnologia aeroespacial com as suas burocracias — algo que claramente favorece as suas próprias empresas (Tesla, SpaceX, Starlink e X). Ironicamente, já existe uma agência responsável por melhorar a eficiência do governo, mas a proposta do DOGE destaca-se pelo claro conflito de interesses entre os objetivos pessoais de Musk e as suas funções governamentais.
A conexão simbiótica
entre Musk e Trump também trouxe impactos significativos para os mercados
financeiros, o fenómeno da "Trump fever" fez disparar as ações da
Tesla na bolsa, nove vezes mais rápido do que o índice S&P 500. Não devido
a inovações ou avanços tecnológicos, apenas antecipações por parte dos investidores
que a proximidade de Musk com o governo resultará em vantagens diretas para as
suas empresas. A mudança de ideias de Trump em relação aos veículos elétricos, "I’m
for electric cars, I have to be because Elon endorsed me very strongly.” ,
reflete o poder que Musk detém e antevê vantagens regulatórias e novos
incentivos fiscais para o setor tecnológico e de energia. Devido a isto a
fortuna de Musk foi “turbocharged” até aos 400 mil milhões de dólares, tornando-o
no homem mais rico do mundo.
A aquisição do
Twitter por Musk, rebatizado de X, transformou a plataforma num campo fértil
para a disseminação de teorias da conspiração e desinformação, muitas vezes
alinhadas com a narrativa de Trump e da direita americana. Como proprietário da
plataforma, Musk moldou a discussão pública de uma forma que poucos bilionários
conseguem, usando a sua visão de "liberdade de expressão" como escudo
para promover uma agenda política que beneficiou o ex-presidente.
Lara Trump, nora
de Donald Trump e então co-presidente do Comitê Nacional Republicano,
reconheceu abertamente o papel central do Twitter na eleição: “I think he
was really important for this election. Purchasing Twitter, truly
making it a free speech platform, I think, was integral to this election, to
the win that Donald Trump had.” Esta declaração destaca o papel estratégico que a plataforma desempenhou,
não apenas como ferramenta de comunicação, mas como alavanca direta para
influenciar o resultado eleitoral.
Como observa o historiador Benjamin Soskis: “Musk is no
different than the kind of oligarch that we see in many other countries. What I
think is different about it is that Musk is doing this in the full glare of
public regard, and with a kind of presumed democratic legitimacy to it.” Musk não é apenas um observador, mas sim um
jogador ativo que usa a sua influência e fama para moldar o futuro dos Estados
Unidos. Os negócios e a política estão a fundir-se de uma forma que se torna
cada vez mais difícil definir onde termina o poder económico e começa o poder
político. A pergunta que fica é: estamos a entrar numa era onde os mais ricos,
como Musk, têm o poder de definir os rumos da política, da economia e da
sociedade, tudo em nome do lucro e do benefício próprio?