Desde a sua criação, os filmes unem as pessoas. A sétima arte, o culminar de todas as formas de expressão, serve, sempre serviu e servirá os gostos de todos – do mais crítico ao mais ingénuo, toda a gente consume cinema. No entanto, há 13 anos, era colocada a questão: num mundo tão vasto, onde posso encontrar pessoas com os mesmos gostos cinematográficos que os meus? (uma pergunta que atormentava toda a gente diariamente, de certeza). A verdade é que os aficionados da fotografia, da música, até da literatura já tinham redes sociais para expressarem os seus gostos e compartilharem o que andavam a consumir. Havia um vazio no mercado. Entra então “Letterboxd: social film discovery”.
Já em 2020, por causa de algo que havia no ar, as pessoas viram mais filmes que o habitual. E então, numa era de partilha como a que vivemos, o número de contas no Letterboxd duplicou em pouco mais que 6 meses e não parou - ligeiramente aquém dos 2 milhões de contas no ano da pandemia, a rede social dos amantes das peliculas conta agora com 14 milhões de usuários (junho 2024).
Numa altura em que o futuro do cinema era incerto, a popularização do Letterboxd deu uma nova esperança à comunidade, mas se a aplicação fez bem ou mal aos cinemas e às pequenas produções, se ajudou os escritores a revindicar os seus diretos na greve de 2023 ou até se deu a conhecer novos mundos a aspirantes novos artistas, não são as questões que me concernem neste momento.
Se vivemos numa era de partilha, vivemos também numa era de comparação. As redes sociais, indireta ou diretamente, alimentam uma cultura egocêntrica e de competitividade. Quando aplicado ao Strava, ainda bem, mas deverá o consumo de arte ser algo industrializado? Automatizado para que possamos ter números mais altos no perfil do que os nossos amigos?
O que quero dizer é tão simples quanto isto: há quem esteja tão restringindo à noção das redes sociais, à imagem que passa, à aesthetic, que é incapaz de ter uma experiência como a que realmente quer – tudo o que faz é porque os outros vão ver, é porque vai ser julgado por...alguém? então ̶d̶e̶v̶e̶ tem que fazer como ditam as normas... até na arte.
Havendo também aqueles que acreditam que só a arte que eles consomem é a correta ou a boa, só gostava que as pessoas quebrassem um pouco as personas que desenvolvem online e fizessem aquilo que lhes deixa feliz, por exemplo.
No final do dia, o Letterboxd acaba por ser das melhores redes sociais hoje em dia (não é fascista) e deu uma nova vida ao cinema e à comunidade; numa época da massificação e industrialização da arte por parte dos serviços de streaming e grandes produtoras, introduziu um novo mundo a muita gente e abriu uma porta para os amantes desta forma de arte falarem, partilharem, conhecerem e darem a conhecer aquilo que amam. E não é isso do que mais bonito há na experiência humana?