Penso: embrulhar museus palácios monumentos; fazer o impensável: beijar-te na Torre Eiffel e descobrir que és feito de susto. Fronteiras elásticas de pensamento obtuso (quem me dera não pensar nisto) perpetuamente limitado pelo conhecimento.
Penso: tudo é
triste, quanto te abres a ver se cabes miúdo no meu coração. A apequenar-te por
mim. E eu a perigar-me por alguém, e saber que quando me olhas nos olhos, e eu
te olho nos teus — nos olhamos, portanto — o mundo insiste em existir, igual; e
o chão é do mesmo tamanho por baixo dos pés, sem nunca nos deixar cair
completamente em nós mesmos (mas quase).
Penso: estou
no sítio certo, ou então no seu oposto. Não há artistas em torres de marfim;
estamos sempre a ir uns contra os outros sem darmos por isso. Há espaço que
chegue para o desencontro; garrafas lançadas ao mar com mensagens de amor ou
comércio.
Penso: é um
desperdício desviarmo-nos para dentro, agora que os deuses se viraram de costas só para que finalmente falássemos. Mas eis-te, recostado na tua sombra, despojado de
responsabilidades, e se me vens intenso julgo saber o significado das coisas,
pequenas necessidades perfeitamente quotidiananas, os nomes e as cores e as formas de cada objeto do
mundo inteiro, mas vai-se a ver e são suportes obsoletos — pequenos gigantes de
raiva e eu, a tentar levar-te a sério enquanto voas por um céu de estrelas cintilantes
e dizes que me amas.
Penso: este
precipício decerto foi criado por um artista; mas, artisticamente falando, isto
não é nada. Teimo à espera de um anjo que me atinja, arco e flecha em punho, e
no entanto, como costume, dás-me o que não peço; o que peço não me dás e cá
estamos.