domingo, 23 de novembro de 2025

Glorificação da guerra nos filmes

     Há quem defenda que não existem filmes antiguerra, isto é, que os filmes vão sempre inevitavelmente glorificar o combate ao retratarem a aventura e a emoção deste e eu não discordo totalmente. Mesmo quando procuram denunciar os horrores e a futilidade da guerra, os filmes inevitavelmente recorrerem aos meios técnicos do cinema - montagem rítmica, som imersivo, representações gráficas realistas, entre outros - que intensificam a perceção sensorial do espetador, sendo que em muitos casos acabam por simplificar a guerra numa vitória do bem sobre o mal, não mostrando a extensão total dos danos criados.

    Tal como Walter Benjamin afirma, o aparelho técnico capta os movimentos de massas de forma mais eficaz que o olho, sendo que o mesmo traduz-se para os filmes de guerra, onde a experiência do combate é amplificada, tornando-a cinemática e emocionalmente estimulante. A intensidade visual e sonora muitas vezes acaba por também desencadear uma resposta de adrenalina que contradiz a intenção moral do realizador. Assim, o cinema corre o risco de contribuir para a estetização da violência que pretende criticar.

    Esta contradição pode até explicar o porquê de tantos jovens, ao longo das décadas, terem sido influenciados a alistarem-se no exército por filmes que supostamente denunciavam a guerra, mas que, através da força estética das suas imagens, acabavam por alimentar fantasias de heroísmo, pertença e glória. A camaradagem retratada nestas narrativas, presente em quase todos os filmes de guerra populares, serviu também como fator de atração sobre os jovens, oferecendo um sentido de propósito coletivo e a representação do combate como superação pessoal.

    No entanto considero que existem filmes verdadeiramente antiguerra. Isto é, que mostram a guerra não apenas como ineficaz, moralmente errada e destrutiva para os soldados, civis e a sociedade que a aceita, mas também mostram a morte em combate como sem sentido e totalmente irremediável. Por outras palavras, um filme antiguerra deve quebrar o encanto da guerra, no entanto, a exigência inerente ao cinema de envolver e entreter os espectadores acaba por ser tornar incompatível com isso. Existem, contudo alguns filmes que, na minha opinião, o conseguiram fazer. Come and See (1985), de Elem Klimov, é um deles, onde ao invés de estetizar a guerra, expõe o colapso psicológico e físico do protagonista, de uma forma tão brutal e desprovida de heroísmo que destrói qualquer leitura glorificadora que se podia ter do conflito.

    Concluindo, a representação da guerra no cinema envolve um paradoxo inevitável. Onde tende de tornar a experiência esteticamente envolvente, mesmo quando pretende condenar a guerra. Isto é, a força da imagem amplifica e estetiza a violência, tornando difícil quebrar o encanto que a guerra nos filmes exerce sobre o observador. Ainda assim, considero que existem filmes, embora poucos que conseguiram comprovar que é possível romper com essa tendência, anulando qualquer leitura enobrecedora sobre a guerra.