Ser
jovem nos dias de hoje. O que significa? Somos melhores por sermos mais
recentes? Somos mais informados? Seria fácil pensar que sim.
Hoje em dia temos acesso a qualquer informação num piscar de olhos - ou menos - e isso
parece deixar toda a gente feliz; viver informado, poder escolher e agir, de
forma facilitada. A combinação perfeita. Muitas vezes até escolhemos conhecer coisas
diferentes, para além da primeira camada de informação que nos é disponibilizada.
Mas o que conhecemos afinal?
Vivemos
numa época de liberdades. E temos sorte: podemos ser o que quisermos, ter a
nossa opinião e até partilhá-la; podemos conhecer o que quisermos e até
escolher como o aprender. Só que estas vantagens vêm manchadas, do lado que não
se vê - no meio de tanta coisa boa, tinha de haver uma explicação, tendo em
conta que, afinal, o propósito da propaganda de informação nem sempre é só o
nosso bem-estar. Dou o exemplo das escolhas alimentares chamadas
"alternativas": o número de jovens sensibilizados por causas ambientais
e solidárias (ou outras) que escolhem melhorar os seus hábitos alimentares,
está a aumentar consideravelmente - fruto de um novo cuidado no que toca à
recolha de informação. O interesse e dedicação direcionados para um futuro
melhor e universal estão a tornar-se cada vez mais bem-vistos e não só
diferentes do normal. Portanto, a
propaganda segue essa tendência, como sempre fez com todas as outras. Hoje é
possível obter a maior parte dos itens "estranhos" à tradição
alimentar do nosso país com facilidade; surgem cada vez mais rótulos de
palavras verdes, "biológico", "vegetariano", "comércio
justo", e é com prazer que são recebidos, por corresponderem à mudança que
muitos querem ver acontecer. É bom ver o nosso esforço ser apoiado, em nome de
uma boa causa. O problema é que a indústria nunca deixa de ser indústria,
independentemente do setor de que falemos. Sabemos que fica muito caro apoiar
sempre marcas independentes, apesar de serem essas que nos asseguram a sua
fidelidade, por isso procuramos também alternativas mais acessíveis - e que
sorte, aparecem cada vez mais. Mas há que pensar no porquê dessa diferença. Se
dizem ser verdes, como conseguem distanciar-se de marcas que tanto se esforçam
pela mesma causa?
O
"lado que não se vê" assenta mesmo aí. Apesar da crescente
consciência na obtenção de informação, a final de contas só temos acesso ao que
nos é disponibilizado, e tudo o resto fica livre para manipulações. Quando
estamos atentos ao modo de produção ou constituição de certo alimento, podemos
não dar importância ao local onde foi fabricado, por exemplo, o que pode até
ser mais relevante para a causa que queremos defender, pelo simples facto de o
fluxo de importações/exportações causar uma pegada ecológica muito maior do que
a própria constituição do alimento, neste caso.
Para
concluir: há que manter sempre por perto a ideia de que a indústria se alimenta
do seu lucro e não da pura satisfação dos desejos do público. Ao defender uma
causa, qualquer causa, é sempre saudável refletir sobre as várias faces do
produto que estamos a consumir, não de forma excessiva, mas sim consciente.