quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Consumismo consciente


                Ser jovem nos dias de hoje. O que significa? Somos melhores por sermos mais recentes? Somos mais informados? Seria fácil pensar que sim.
                Hoje em dia temos acesso a qualquer informação num piscar de olhos - ou menos - e isso parece deixar toda a gente feliz; viver informado, poder escolher e agir, de forma facilitada. A combinação perfeita. Muitas vezes até escolhemos conhecer coisas diferentes, para além da primeira camada de informação que nos é disponibilizada. Mas o que conhecemos afinal?
                Vivemos numa época de liberdades. E temos sorte: podemos ser o que quisermos, ter a nossa opinião e até partilhá-la; podemos conhecer o que quisermos e até escolher como o aprender. Só que estas vantagens vêm manchadas, do lado que não se vê - no meio de tanta coisa boa, tinha de haver uma explicação, tendo em conta que, afinal, o propósito da propaganda de informação nem sempre é só o nosso bem-estar. Dou o exemplo das escolhas alimentares chamadas "alternativas": o número de jovens sensibilizados por causas ambientais e solidárias (ou outras) que escolhem melhorar os seus hábitos alimentares, está a aumentar consideravelmente - fruto de um novo cuidado no que toca à recolha de informação. O interesse e dedicação direcionados para um futuro melhor e universal estão a tornar-se cada vez mais bem-vistos e não só diferentes do normal. Portanto,  a propaganda segue essa tendência, como sempre fez com todas as outras. Hoje é possível obter a maior parte dos itens "estranhos" à tradição alimentar do nosso país com facilidade; surgem cada vez mais rótulos de palavras verdes, "biológico", "vegetariano", "comércio justo", e é com prazer que são recebidos, por corresponderem à mudança que muitos querem ver acontecer. É bom ver o nosso esforço ser apoiado, em nome de uma boa causa. O problema é que a indústria nunca deixa de ser indústria, independentemente do setor de que falemos. Sabemos que fica muito caro apoiar sempre marcas independentes, apesar de serem essas que nos asseguram a sua fidelidade, por isso procuramos também alternativas mais acessíveis - e que sorte, aparecem cada vez mais. Mas há que pensar no porquê dessa diferença. Se dizem ser verdes, como conseguem distanciar-se de marcas que tanto se esforçam pela mesma causa?
                O "lado que não se vê" assenta mesmo aí. Apesar da crescente consciência na obtenção de informação, a final de contas só temos acesso ao que nos é disponibilizado, e tudo o resto fica livre para manipulações. Quando estamos atentos ao modo de produção ou constituição de certo alimento, podemos não dar importância ao local onde foi fabricado, por exemplo, o que pode até ser mais relevante para a causa que queremos defender, pelo simples facto de o fluxo de importações/exportações causar uma pegada ecológica muito maior do que a própria constituição do alimento, neste caso.
                Para concluir: há que manter sempre por perto a ideia de que a indústria se alimenta do seu lucro e não da pura satisfação dos desejos do público. Ao defender uma causa, qualquer causa, é sempre saudável refletir sobre as várias faces do produto que estamos a consumir, não de forma excessiva, mas sim consciente.