quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Marketing e género


No nosso dia-a-dia deparamo-nos com inúmeros produtos criados ao detalhe para apelar ao nosso olhar. O seu objetivo final é, naturalmente, levar-nos a comprá-los. No entanto, um olhar mais atento sobre estes produtos e o modo como nos são apresentados pode dar-nos um conhecimento mais profundo sobre o marketing e, consequentemente, o modo pelo qual a nossa sociedade funciona.
De maneira quase impercetível aos nossos olhos, o marketing opera maioritariamente através de estereótipos – por exemplo, de idade, classe social e género. Gostaria de salientar este último, por parecer ser o mais enraizado e abrangente. É inegável a divisão de produtos direcionados para mulheres ou homens – de higiene a vestuário, de alimentos a brinquedos de crianças – assim como a publicidade acerca dos mesmos. Todos os dias passamos por montras, secções de vestuário, filas de produtos em supermercados, cartazes e anúncios em que esta separação e diferenciação está presente, embora não reparemos.
Enquanto que a noção de sexo é definida por um par de cromossomas – sexo feminino (XX) ou masculino (XY) – a noção de género foi construída socialmente. A conceção de género, segundo a nossa sociedade, tem a ver com o que significa “ser mulher” ou “ser homem”, estando relacionada com as ideologias da época e de épocas passadas, moldadas por crenças e opiniões. Os objetos não são seres vivos e consequentemente não possuem sexo – ou género, para que conste. No entanto, produtos com caraterísticas semelhantes ou até iguais são vendidos (e, muitas vezes, a um preço diferente) segmentados mediante estereótipos associados ao género. De igual modo o consumidor faz parte deste jogo, sentindo-se satisfeito ao comprar o produto com o qual se identifica independentemente do seu conteúdo ou qualidade.
         Há que relembrar que o marketing tipicamente considera o género enquanto binário apesar da questão de género ser muito mais complexa. Também é necessário ter em conta o modo como o marketing se aproveita da “progressão social” e do “politicamente correto” com a intenção enviesada de atrair mais consumidores, em diversas matérias.
A pergunta a fazer é, então, como acabar com os estereótipos? Os estereótipos influenciam o marketing, dando ainda mais poder aos estereótipos em si – levando a um ciclo de reforço de estereótipos, que moldam a nossa visão do mundo. Apesar da conceção de que esta situação “está a melhorar”, muitas das vezes dá-se apenas de uma maneira mais subtil do que antes. É necessário ter uma perspetiva crítica e nunca parar de questionar.