No nosso dia-a-dia deparamo-nos com inúmeros
produtos criados ao detalhe para apelar ao nosso olhar. O seu objetivo final é,
naturalmente, levar-nos a comprá-los. No entanto, um olhar mais atento sobre
estes produtos e o modo como nos são apresentados pode dar-nos um conhecimento
mais profundo sobre o marketing e, consequentemente, o modo pelo qual a nossa
sociedade funciona.
De maneira quase impercetível aos nossos olhos, o
marketing opera maioritariamente através de estereótipos – por exemplo, de
idade, classe social e género. Gostaria de salientar este último, por parecer
ser o mais enraizado e abrangente. É inegável a divisão de produtos
direcionados para mulheres ou homens – de higiene a vestuário, de alimentos a
brinquedos de crianças – assim como a publicidade acerca dos mesmos. Todos os
dias passamos por montras, secções de vestuário, filas de produtos em
supermercados, cartazes e anúncios em que esta separação e diferenciação está
presente, embora não reparemos.
Enquanto que a noção de sexo é definida por um par
de cromossomas – sexo feminino (XX) ou masculino (XY) – a noção de género foi
construída socialmente. A conceção de género, segundo a nossa sociedade, tem a ver com o que significa “ser
mulher” ou “ser homem”, estando relacionada com as ideologias da época e de
épocas passadas, moldadas por crenças e opiniões. Os objetos não são seres
vivos e consequentemente não possuem sexo – ou género, para que conste. No
entanto, produtos com caraterísticas semelhantes ou até iguais são vendidos (e,
muitas vezes, a um preço diferente) segmentados mediante estereótipos
associados ao género. De igual modo o consumidor faz parte deste jogo,
sentindo-se satisfeito ao comprar o produto com o qual se identifica
independentemente do seu conteúdo ou qualidade.
Há que relembrar que o marketing tipicamente
considera o género enquanto binário apesar da
questão de género ser muito mais complexa. Também é necessário ter em conta o modo como o
marketing se aproveita da “progressão social” e do “politicamente correto” com
a intenção enviesada de atrair mais consumidores, em diversas matérias.
A pergunta a fazer é, então, como acabar com os
estereótipos? Os estereótipos influenciam o marketing, dando ainda mais poder
aos estereótipos em si – levando a um ciclo de reforço de estereótipos, que
moldam a nossa visão do mundo. Apesar da conceção de que esta situação “está a
melhorar”, muitas das vezes dá-se apenas de uma maneira mais subtil do que antes. É
necessário ter uma perspetiva crítica e nunca parar de questionar.
Alguns exemplos em: https://www.buzzfeed.com/declancashin/itsaboygirlthing