quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Há pouco tempo

 

Há pouco tempo visualizei o novo filme sobre a vida da Marilyn Monroe, mais precisamente “Blonde”, estreado internacionalmente na Netflix em 2022. Este integra uma história fictícia da vida da icônica atriz, mostrando os possíveis enredos da sua carreira.

Realmente, desde a sua morte foram realizados bastante séries, filmes e documentários sobre a sua misteriosa vida. Porém, apesar de quão interessantes estas experiências filmográficas podem ser ... deixem a mulher descansar em paz.

De facto, desde a sua primeira aparência no mundo de Hollywood até aos tempos que correm, anos após a sua morte, que o público sabe mais suposições que verdades, tornando assim a sua vida uma área cinzenta para qualquer identidade a poder tentar revelar. 

Podemos verificar que ao longos dos anos a narrativa sobre a sua vida pessoal, opiniões, escolhas e até pensamento, foi mudando, tomando, por conseguinte, a vertente de mulher sexual e provocadora, mulher frágil incompreendida pelo público, mulher mentalmente instável que foi maltratada pelo mundo de Hollywood, feminista que foi capaz de ter controlo da sua própria imagem e muitos outros.

A realidade é que cada vez que sai um novo projeto sobre esta senhora parece que foi manipulado para seguir uma certo guia, agenda, mais favorável aos tempos em que é produzido e a mensagem que, nesse momento, é mais impactante para os olhos do espectador. Assim sendo, esta figura, que está morta a mais de 50 anos, é despida de qualquer lado humano e colocado numa montra como um produto, que tem que se moldar para a satisfação do público e estes transpõem nela os seus problemas, medos e ideias

Na verdade, estes acontecimentos não são novos nem únicos, constantemente nós usamos celebridades, figuras públicas, para serem a fachada dos nossos problemas e inseguranças, pois assim nos sentimos representados, e, consequentemente familiarizamos com certos problemas da nossa vida, ficando mais próximo de os ultrapassar.

 Estas pessoas passam a ser produtos para a nossa própria satisfação. Colocados sobre estande num supermercado em que vamos retirando aqueles "produtos" que mais nos agradam.

Como por exemplo, há uma certa crença que é muito popularizada na modernidade, que Marilyn era um tamanho M, equivalente ao 40-42 na Europa, porém isso não corresponde à verdade. Isto é, ela vestia um tamanho M, mas não o que associamos hoje em dia a essa medição, pois ao longo dos tempos a roupa foi mudando de proporções, para estar de acordo com o corpo ideal, logo, o M nos anos 60 equivale ao XS ou S da atualidade.

Logo, a sociedade pegou nesta figura e associou uma narrativa que lhe favorecia. Com isto, não estou de qualquer forma a invalidar a causa do movimento de Body Positive, a mensagem que tentam passar é correta, mas não deve ser “A Marilyn Monroe, o sex icon, era um tamanho M, por isso nada impede  de também apreciares o teu corpo”, pelo simples facto não ser verdade.

Para concluir, o que torna tão cativante o caso da Marilyn é ser um perfeito exemplo de um fenômeno comum levado ao extremo. Devido a sua vida ser caracterizada por um mistério, uma tela branca, a sociedade não só cria um fascínio por descobrir a verdade, ou, como acontece em muitos casos, criar um enredo, que está de acordo com as suas ideologias, da mesma forma como se põe um rótulo numa lata. Transformando esta figura, pessoa, num simples produto.