Há uns dias, enquanto fazia o meu trajeto diário da faculdade para casa, reparei em algo que nunca tinha visto - ao longo de um cabo elétrico e de um muro, estendia-se um número enorme de pombos, que devia ultrapassar uma centena. Claro que já tinha visto pombos antes, mas nunca tantos assim num só grupo.
Como vi isto à saída do metro, notei logo a semelhança entre aquela imagem e a da multidão de pessoas nos transportes públicos. Esta situação despertou-me a curiosidade para esta espécie, que até então só via como uma coisa banal e desinteressante.
Apesar de as pessoas (especialmente as que vivem em grandes espaços urbanos) repudiarem os pombos pelos mais diversos motivos, estes apresentam várias semelhanças com o ser humano, quer individualmente, quer na sua vida em sociedade. A nossa relação com este animal é já bastante antiga – o pombo era originalmente selvagem, mas, há alguns milénios atrás, o ser-humano domesticou-o, dando origem ao pombo-correio, que continuou a ser usado por muito tempo. Foi esta constante convivência e ligação com o Homem que deu origem ao pombo que conhecemos hoje.
Nós temos por hábito tratar os pombos como se fossem uma mera praga, mas parte da culpa também é do ser-humano. Quase tudo aquilo que eles comem vem, direta ou indiretamente, de mãos humanas, portanto, o seu cérebro desenvolveu-se de modo a conseguir entender e conviver connosco. Eles, tal como nós, têm uma ótima memória, transmitem conhecimento de geração em geração e aprendem por tentativa-erro, o que os ajuda, por exemplo, a saber qual a zona da cidade que costuma ter mais comida.
A pesquisa e reflexão acerca desta espécie fez-me mudar de opinião e visão em relação à mesma. Cada vez que eu pensar que os pombos estiverem a ser sujos, barulhentos ou inconvenientes, vou-me lembrar que eles são apenas fruto da influência humana e que afinal não somos assim tão diferentes.
14211