Em 1984, George Orwell apresenta-nos uma
nova realidade. Uma distopia no meio da guerra governada por uma entidade
conhecida como Big Brother. O trabalhador é submetido à visualização constante
de vídeos e audição de áudios sobre o Big Brother – “Big Brother is watching
you.” Propaganda está espalhada pelas ruas, e até mesmo nas fábricas onde as
pessoas trabalham, a incentivar a ignorância e monotonia, onde a criatividade e
o pensamento são crimes – “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é
força.” As pessoas estão proibidas de mostrar sinais de compaixão e amor. Só há
atividades sexuais quando se trata de reprodução. Amar é crime, pois amar faz a
pessoa, o trabalhador, imprevisível, impulsivo e fá-lo refletir sobre a vida.
George Orwell publica o livro 35 anos
antes da data do título 1984, tentando prever como seria o futuro dali a uns
anos, baseando-se nas suas viagens por países onde tiranos e totalitaristas
mandavam sobre os cidadãos – Espanha, China, Alemanha, Rússia. Orwell cria um
mundo que se tornou realidade no século XXI. A China limita a informação online
disponível para os utilizadores, banindo o Google Chrome, FireFox, Microsoft
Explorer, entre outros, exceto o Bing, que possibilita um controlo máximo sobre
a informação do mundo e informação sobre o próprio país. Ai Weiwei, um
artista chinês, foi preso durante meses, mantido longe da sua família e em
péssimas condições, por expor obras que o governo chinês não aprovava e por ir
contra o idealismo chinês. Um programa de reality show neerlandês, chamado
Big Brother, estreou em Portugal, em 2000. O seu objetivo era chamar desconhecidos
para dentro de uma casa, onde viveram juntos até sobrar apenas um deles. A casa
estava repleta de câmaras escondidas, que estavam ligadas dia e noite, impedindo
que as pessoas estivessem à vontade, nem que tivessem um mínimo de privacidade.
Quem decidia quem ficava ou quem saía era o público, que observa a vida das
pessoas através das câmaras. Tal como no livro de Orwell, o Big Brother monitoriza
constantemente as pessoas, transpondo o “olho” presente na capa do livro para o
logotipo do programa.
Curioso, não é? Como qualquer pessoa
pode adivinhar o que poderá acontecer no mundo se prestar atenção a padrões que
aconteceram no passado e que se repetem no presente. Tudo porque o autor viajou
por países com governantes obcecados pelo controlo sobre os seus cidadãos.
Mantendo as pessoas ignorantes, as hipóteses de ocorrerem protestos e/ou revoltas,
são minimizados, pois a população não dispõe de informação que lhe permita
formular opinião sobre as decisões tomadas pelo governante. Com as guerras e
conflitos dos dias de hoje, uma pessoa pergunta-se se, um dia, um futuro, a
sociedade vai estar presa e submetida à concretização dos desejos de alguém que
se considera como “um ser superior”. Talvez um dia 1984 se torne inteiramente
realidade. Na Rússia, Putin começou uma guerra com a Ucrânia por não aceitar
que esta fosse independente, pois acha que deveria pertencer à Rússia, por anteriormente
ter pertencido à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Forçar um
país, uma civilização, uma cultura, a servir outro país, é algo característico de
uma mente retrógrada que não respeita as diferenças das pessoas e o seu direito
à independência. Mas se em 2023, mentes assim e opiniões destas ainda existem e
os ditadores tentam que sejam aceites (a bem ou a mal) pelas outras pessoas,
quem sabe como será o mundo daqui a 20 anos, 50 anos ou 100 anos.
Talvez seja da minha mente distópica e pouco confiante nas novas gerações, mas dificilmente vejo os jovens de hoje a corrigir os erros e as falhas dos reformados do amanhã. Os mesmos problemas vão persistir. Por cada problema que se resolve, parecem surgir outros dois. Mesmo que a maioria desapareça, novos conflitos irão aparecer. O humano é um ser destrutivo que quer ter controlo sobre o seu próprio mundo – definir as regras e os limites, ultrapassar o que uns acham impossível. Nós não sabemos estar contentes connosco próprios e sentimos sempre a necessidade de evoluir para algo que consideramos melhor. Mas mentes egoístas e sedentas de poder irão sempre aproveitar-se desse “algo melhor” e usá-lo para se favorecerem a si próprios. Acredito que países como a China, Coreia do Norte e a Rússia, que se preocupam tanto em controlar os seus cidadãos e a informação disponível, e em manter o prestígio e a imagem endeusada dos respetivos governantes, acabem por ser semelhantes ao mundo criado por Orwell. Assim, os Winstons e Julias desses países, talvez acabem por ter o mesmo fim que os personagens de 1984. E tal como as trends das redes sociais, ao ver que esse método funciona tão rigorosamente bem, vários países poderão querer o mesmo controlo.