segunda-feira, 20 de novembro de 2023

1984, de George Orwell: Uma Opinião

 


Em 1984, George Orwell apresenta-nos uma nova realidade. Uma distopia no meio da guerra governada por uma entidade conhecida como Big Brother. O trabalhador é submetido à visualização constante de vídeos e audição de áudios sobre o Big Brother – “Big Brother is watching you.” Propaganda está espalhada pelas ruas, e até mesmo nas fábricas onde as pessoas trabalham, a incentivar a ignorância e monotonia, onde a criatividade e o pensamento são crimes – “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.” As pessoas estão proibidas de mostrar sinais de compaixão e amor. Só há atividades sexuais quando se trata de reprodução. Amar é crime, pois amar faz a pessoa, o trabalhador, imprevisível, impulsivo e fá-lo refletir sobre a vida.

George Orwell publica o livro 35 anos antes da data do título 1984, tentando prever como seria o futuro dali a uns anos, baseando-se nas suas viagens por países onde tiranos e totalitaristas mandavam sobre os cidadãos – Espanha, China, Alemanha, Rússia. Orwell cria um mundo que se tornou realidade no século XXI. A China limita a informação online disponível para os utilizadores, banindo o Google Chrome, FireFox, Microsoft Explorer, entre outros, exceto o Bing, que possibilita um controlo máximo sobre a informação do mundo e informação sobre o próprio país. Ai Weiwei, um artista chinês, foi preso durante meses, mantido longe da sua família e em péssimas condições, por expor obras que o governo chinês não aprovava e por ir contra o idealismo chinês. Um programa de reality show neerlandês, chamado Big Brother, estreou em Portugal, em 2000. O seu objetivo era chamar desconhecidos para dentro de uma casa, onde viveram juntos até sobrar apenas um deles. A casa estava repleta de câmaras escondidas, que estavam ligadas dia e noite, impedindo que as pessoas estivessem à vontade, nem que tivessem um mínimo de privacidade. Quem decidia quem ficava ou quem saía era o público, que observa a vida das pessoas através das câmaras. Tal como no livro de Orwell, o Big Brother monitoriza constantemente as pessoas, transpondo o “olho” presente na capa do livro para o logotipo do programa.

 

Curioso, não é? Como qualquer pessoa pode adivinhar o que poderá acontecer no mundo se prestar atenção a padrões que aconteceram no passado e que se repetem no presente. Tudo porque o autor viajou por países com governantes obcecados pelo controlo sobre os seus cidadãos. Mantendo as pessoas ignorantes, as hipóteses de ocorrerem protestos e/ou revoltas, são minimizados, pois a população não dispõe de informação que lhe permita formular opinião sobre as decisões tomadas pelo governante. Com as guerras e conflitos dos dias de hoje, uma pessoa pergunta-se se, um dia, um futuro, a sociedade vai estar presa e submetida à concretização dos desejos de alguém que se considera como “um ser superior”. Talvez um dia 1984 se torne inteiramente realidade. Na Rússia, Putin começou uma guerra com a Ucrânia por não aceitar que esta fosse independente, pois acha que deveria pertencer à Rússia, por anteriormente ter pertencido à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Forçar um país, uma civilização, uma cultura, a servir outro país, é algo característico de uma mente retrógrada que não respeita as diferenças das pessoas e o seu direito à independência. Mas se em 2023, mentes assim e opiniões destas ainda existem e os ditadores tentam que sejam aceites (a bem ou a mal) pelas outras pessoas, quem sabe como será o mundo daqui a 20 anos, 50 anos ou 100 anos.

Talvez seja da minha mente distópica e pouco confiante nas novas gerações, mas dificilmente vejo os jovens de hoje a corrigir os erros e as falhas dos reformados do amanhã. Os mesmos problemas vão persistir. Por cada problema que se resolve, parecem surgir outros dois. Mesmo que a maioria desapareça, novos conflitos irão aparecer. O humano é um ser destrutivo que quer ter controlo sobre o seu próprio mundo – definir as regras e os limites, ultrapassar o que uns acham impossível. Nós não sabemos estar contentes connosco próprios e sentimos sempre a necessidade de evoluir para algo que consideramos melhor. Mas mentes egoístas e sedentas de poder irão sempre aproveitar-se desse “algo melhor” e usá-lo para se favorecerem a si próprios. Acredito que países como a China, Coreia do Norte e a Rússia, que se preocupam tanto em controlar os seus cidadãos e a informação disponível, e em manter o prestígio e a imagem endeusada dos respetivos governantes, acabem por ser semelhantes ao mundo criado por Orwell. Assim, os Winstons e Julias desses países, talvez acabem por ter o mesmo fim que os personagens de 1984. E tal como as trends das redes sociais, ao ver que esse método funciona tão rigorosamente bem, vários países poderão querer o mesmo controlo.