Olhando para o número de espetadores a questão parece ser facilmente respondida, mas os números são enganadores. Vejamos o caso de Portugal, para assistir regularmente ao futebol profissional português legalmente é preciso das duas uma: 1)Pagar uma subscrição de, pelo menos, um canal premium (Sport tv ou Benfica tv); 2)Comprar bilhetes. A opção 1 pode representar custos de até 40 euros por mês se optar pelos dois canais, isto sem contar com a televisão/internet e todos os custos secundários associados. A opção 2 é de longe a opção mais cara, um bilhete de época ronda sempre as centenas de euros por época, e os custos secundários são enormes.
É manifestamente exagerado afirmar que o nosso futebol é acessível, só um número reduzido de pessoas consegue realmente acompanha-lo. As ligas, aproveitando-se da elevada procura, vendem os direitos televisivos a valores astronómicos acabando o consumidor por pagar a fatura. Acontece assim um processo de alienação das gentes para com o nosso futebol profissional. Os adeptos de hoje são diferentes de há 20 anos, não é para quem quer, é para quem pode. A própria ligação clubística é afetada. Clubes sem história sobem desportivamente à custa de fundos estrangeiros que zelam por interesses próprios, muitas vezes opostos aos do próprio clube. Clubes que se dizem "do povo", mas na verdade representam todo o establishment.
No fundo, estamos a falar de um processo de mercantilização do futebol. Clubes são considerados marcas, jogadores uma mercadoria e o jogo um conteúdo comercializável. O futebol romântico talvez nunca tenha chegado a existir, mas mete pena o estado onde estamos.