segunda-feira, 20 de novembro de 2023

ChatGPT e a individualidade

Figura 1: Martha Gabriel, "Inteligência Artificial vs
Inteligência Humana: porque "together is better"", 2019


Hoje em dia, muitas pessoas usam o ChatGPT para os ajudar a realizar diversas tarefas, tornando a inteligência artificial cada vez mais presente no nosso quotidiano. A inteligência artificial está a ganhar cada vez mais interesse e reconhecimento, mas isto tem várias implicações que afetam a forma como percebemos a individualidade e resistimos à conformidade. Podemos relacionar este tema com as ideias de Marcuse sobre o "Homem Unidimensional".

De acordo com Marcuse, o “Homem Unidimensional” é moldado por uma sociedade influenciada pela tecnologia, consumo e controlo social, onde há falsa liberdade, isto é, as escolhas individuais são limitadas. Devido a estes fatores, as pessoas conformam-se e alienam-se, perdendo a sua capacidade crítica. Marcuse alerta para a perda da verdadeira individualidade devido à aceitação passiva de normas e valores pré-definidos.

Muitos estudantes por todo o mundo usam o ChatGPT (que é a ferramenta de inteligência artificial mais falada atualmente) para os ajudar em trabalhos da escola ou até para os ajudar a organizar a sua rotina. Isto porque pedindo ajuda nas tarefas a inteligência artificial diminui o tempo de trabalho, diminui erros de escrita, quando se trata de textos, e até dá ideias para futuros trabalhos.

Sim, a inteligência artificial consegue ajudar-nos a realizar várias tarefas, mas também tem os seus pontos negativos, que atrapalham o nosso quotidiano. Deixar uma inteligência artificial substituir o nosso pensamento pode impactar o nosso desenvolvimento e aprendizagem, mas também nos pode fazer perder a nossa capacidade critica, levar a conformidade e à alienação, tal como dito por Marcuse. Esta ferramenta pode ser imprecisa, instável e como vai buscar informação a diferentes publicações da internet, o ChatGPT não cita as fontes dos textos, o que pode gerar conteúdos contraditórios ou tendenciosos.

Também podemos ver isto de outra forma. Quando estamos nas redes sociais, as recomendações de conteúdo e interações sociais, são criadas por algoritmos complexos. No ChatGPT as recomendações de conteúdo também são dadas por algoritmos semelhantes. Marcuse alertou para a homogeneização da sociedade, e encontraria razão nisto. Os algoritmos controlam não apenas o que consumimos, mas também como percebemos o mundo e a nós mesmos. Quando nos conformamos com narrativas e experiências pré-fabricadas, que nos são dadas por estes algoritmos, a nossa individualidade é posta à prova. Por isso é fundamental mantermos a nossa autenticidade e questionarmos o que nos é mostrado.

Muitas vezes dou por mim a usar o ChatGPT para agilizar a minha rotina e diminuir o tempo que passo a realizar as tarefas. Recentemente a minha prima fez anos e queria dar-lhe uma prenda, mas não sabia o quê, logo perguntei ao ChatGPT e ele dá várias sugestões, fazendo com que eu não perca muito tempo a pensar no assunto. Um dos principais exemplos disto no meu quotidiano é nos trabalhos de programação que tenho na faculdade. Quando se faz programação, o produto final geralmente apresenta muitos erros e muitas vezes as aplicações não dão sugestões de como resolver, se eu pedir ajuda no ChatGPT consigo resolver os erros muito mais rápido e ainda me explica a origem e o porquê desse erro para que no futuro já saiba resolver por mim mesma. Antes de usar esta ferramenta, quando tinha trabalhos de programação com erros assim e que não os conseguia resolver, muitas vezes acabava por entregar o trabalho com erros e não conseguia chegar ao objetivo por causa disto. Muitos dos meus professores, nestas cadeiras de programação, até incentivam, em alguns casos, a usarmos o ChatGPT, porque acaba por diminuir o tempo que gastamos no trabalho, mas claro que há sempre o receio de a ferramenta não estar a ser usada apenas para esse fim.

Este ano fui pelo segundo ano à Web Summit e pude ver como estes assuntos cada vez mais preocupam e intrigam a nossa sociedade. No ano passado as palestras eram sobre diversos temas, mas este ano todos esses temas se cruzavam com a inteligência artificial. Temas como artes, ciência, turismo, tecnologia, etc. cada vez mais têm de lidar com a inteligência artificial e a sua crescente presença na sociedade. Na Web Summit pude ver como personalidades de diferentes áreas estão a lidar com este tema, as implicações morais que isto traz e o impacto, bom e mau, que pode ter na nossa sociedade.

Em conclusão, vendo como as tecnologias modernas impactam a nossa perceção da individualidade, conseguimos entender os avisos sobre o Homem Unidimensional de Marcuse. A inteligência artificial é um exemplo onde a nossa autenticidade e discernimento são postos à prova e desafia-nos a manter a nossa individualidade e bom senso.