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| Figura 1: Martha Gabriel, "Inteligência Artificial vs Inteligência Humana: porque "together is better"", 2019 |
Hoje
em dia, muitas pessoas usam o ChatGPT para os ajudar a realizar diversas
tarefas, tornando a inteligência artificial cada vez mais presente no nosso
quotidiano. A inteligência artificial está a ganhar cada vez mais interesse e
reconhecimento, mas isto tem várias implicações que afetam a forma como
percebemos a individualidade e resistimos à conformidade. Podemos relacionar
este tema com as ideias de Marcuse sobre o "Homem Unidimensional".
De
acordo com Marcuse, o “Homem Unidimensional” é moldado por uma sociedade
influenciada pela tecnologia, consumo e controlo social, onde há falsa
liberdade, isto é, as escolhas individuais são limitadas. Devido a estes
fatores, as pessoas conformam-se e alienam-se, perdendo a sua capacidade
crítica. Marcuse alerta para a perda da verdadeira individualidade devido à
aceitação passiva de normas e valores pré-definidos.
Muitos
estudantes por todo o mundo usam o ChatGPT (que é a ferramenta de inteligência
artificial mais falada atualmente) para os ajudar em trabalhos da escola ou até
para os ajudar a organizar a sua rotina. Isto porque pedindo ajuda nas tarefas
a inteligência artificial diminui o tempo de trabalho, diminui erros de
escrita, quando se trata de textos, e até dá ideias para futuros trabalhos.
Sim,
a inteligência artificial consegue ajudar-nos a realizar várias tarefas, mas
também tem os seus pontos negativos, que atrapalham o nosso quotidiano. Deixar uma
inteligência artificial substituir o nosso pensamento pode impactar o nosso
desenvolvimento e aprendizagem, mas também nos pode fazer perder a nossa
capacidade critica, levar a conformidade e à alienação, tal como dito por
Marcuse. Esta ferramenta pode ser imprecisa, instável e como vai buscar
informação a diferentes publicações da internet, o ChatGPT não cita as fontes
dos textos, o que pode gerar conteúdos contraditórios ou tendenciosos.
Também
podemos ver isto de outra forma. Quando estamos nas redes sociais, as
recomendações de conteúdo e interações sociais, são criadas por algoritmos
complexos. No ChatGPT as recomendações de conteúdo também são dadas por
algoritmos semelhantes. Marcuse alertou para a homogeneização da sociedade, e
encontraria razão nisto. Os algoritmos controlam não apenas o que consumimos,
mas também como percebemos o mundo e a nós mesmos. Quando nos conformamos com
narrativas e experiências pré-fabricadas, que nos são dadas por estes
algoritmos, a nossa individualidade é posta à prova. Por isso é fundamental
mantermos a nossa autenticidade e questionarmos o que nos é mostrado.
Muitas
vezes dou por mim a usar o ChatGPT para agilizar a minha rotina e diminuir o
tempo que passo a realizar as tarefas. Recentemente a minha prima fez anos e
queria dar-lhe uma prenda, mas não sabia o quê, logo perguntei ao ChatGPT e ele
dá várias sugestões, fazendo com que eu não perca muito tempo a pensar no
assunto. Um dos principais exemplos disto no meu quotidiano é nos trabalhos de
programação que tenho na faculdade. Quando se faz programação, o produto final
geralmente apresenta muitos erros e muitas vezes as aplicações não dão
sugestões de como resolver, se eu pedir ajuda no ChatGPT consigo resolver os
erros muito mais rápido e ainda me explica a origem e o porquê desse erro para
que no futuro já saiba resolver por mim mesma. Antes de usar esta ferramenta,
quando tinha trabalhos de programação com erros assim e que não os conseguia
resolver, muitas vezes acabava por entregar o trabalho com erros e não
conseguia chegar ao objetivo por causa disto. Muitos dos meus professores,
nestas cadeiras de programação, até incentivam, em alguns casos, a usarmos o
ChatGPT, porque acaba por diminuir o tempo que gastamos no trabalho, mas claro
que há sempre o receio de a ferramenta não estar a ser usada apenas para esse
fim.
Este
ano fui pelo segundo ano à Web Summit e pude ver como estes assuntos cada vez
mais preocupam e intrigam a nossa sociedade. No ano passado as palestras eram
sobre diversos temas, mas este ano todos esses temas se cruzavam com a
inteligência artificial. Temas como artes, ciência, turismo, tecnologia, etc.
cada vez mais têm de lidar com a inteligência artificial e a sua crescente
presença na sociedade. Na Web Summit pude ver como personalidades de diferentes
áreas estão a lidar com este tema, as implicações morais que isto traz e o
impacto, bom e mau, que pode ter na nossa sociedade.
Em
conclusão, vendo como as tecnologias modernas impactam a nossa perceção da
individualidade, conseguimos entender os avisos sobre o Homem Unidimensional de
Marcuse. A inteligência artificial é um exemplo onde a nossa autenticidade e
discernimento são postos à prova e desafia-nos a manter a nossa individualidade
e bom senso.
