Tal como exposto em aula, Marx defendia que os objetos têm um valor de uso e um valor de troca, realçando a diferença entre a Natureza (a coisa em si e o seu valor de uso) e a cultura (a coisa como mercadoria e o seu valor de troca). Uma coisa transforma-se em mercadoria quando existe social e culturalmente, e está no mercado, podendo ser comprada e vendida.
Isto fez-me refletir sobre o valor pessoal e sentimental que depositamos nos objetos. Um objeto banal pode tornar-se valioso, não pelas suas qualidades ou características propriamente ditas, mas por causa de quem se relaciona com ele, ou seja, o valor do objeto pode ser ditado pela pessoa que o observa e consome. Ao depender mais de quem interage com o objeto, do que do objeto em si, o seu valor é independente do valor monetário, e na minha opinião, é mais valioso e profundo: é o valor de estar vivo. Uma carta de amor, uma folha de outono, os bilhetes de comboio de uma viagem que já se fez. É aí que estamos nós, as nossas memórias e vivências. O mundo interior de cada pessoa constitui uma teia imensa e única de associações, memórias e vivências, que resulta numa relação diferente de cada um de nós com cada objeto. As pessoas que conhecemos e de quem gostamos, os lugares que visitamos, dias e momentos marcantes ficam associados a determinados objetos.
A cultura é o que é partilhado, o que é humano. E para mim os objetos mais valiosos não são os mais caros, de marca ou de edições limitadas. São os que estão ligados às vivências que fazem de mim quem sou. Que me transportam ao passado, a dias, a pessoas, a experiências. Aqueles que sei que vou encontrando sem ter de os procurar, os espontâneos, aparentemente banais e desinteressantes, porque são um resultado da vida a acontecer.
Se não existissem determinadas convenções sociais e culturais, valorizaríamos as coisas que valorizamos? Se não fossemos condicionados desde crianças a considerar determinadas coisas boas, importantes, necessárias ou valiosas, quão diferentes seriam os nossos critérios e hábitos de consumo e a nossa relação com os objetos?
Será que sentiríamos a vontade de consumir tão incansavelmente?
Será assim tão necessário comprar um telemóvel novo cada vez que há uma nova atualização ou um modelo mais recente? O consumo desenfreado apoia-se na crença de que necessitamos sempre de mais e de melhor. Mas essas necessidades, apesar de se apresentarem como tal, são falsas, e não devemos deixá-las controlar-nos.
Na minha opinião, o consumo desses objetos não deve ditar a nossa vida. É importante que cada um de nós tenha consciência dos seus gostos e preferências, e que não se deixe levar pelas últimas modas e tendências, consumindo indiscriminadamente tudo o que nos é publicitado. Não é preciso ter objetos caros, nem de marcas de luxo: por vezes as coisas mais pequenas trazem consigo maior significado, se estivermos atentos a elas, e não são as que nos são vendidas mas as que construímos ao viver.