terça-feira, 26 de novembro de 2024

Saussure e o livro Casa das estrelas

Uma das ideias apresentadas por Saussure no livro Curso de linguistica geral (2006) é que os signos são como “átomos” da linguagem, compostos por duas partes principais: o significante e o significado. O significante é a imagem acústica ou gráfica utilizamos para representar algo, é a manifestação ou o veículo do signo. O significado é a ideia que o signo trás a nossa mente.

Para o linguista suíço, o signo é arbitrário, pois a relação entre significante e significado é arbitrária, ou seja, não há uma ligação necessária entre a manifestação da palavra (significante) e a ideia a qual ela se refere (significado). Podemos observar isto facilmente: idiomas diferentes usam significantes diferentes para expressar o mesmo significado.

O livro Casa das estrelas, de Javier Naranjo (2013), é uma coletânea deste professor colombiano de definições que os seus alunos do ensino primário deram a palavras nas aulas de espanhol. Uma ideia simples, mas poderosa. As associações das crianças aos signos revelam a arbitrariedade e subjetividade da linguagem, como por exemplo nas suas definições de “Criança” no livro:

“Tem ossos, tem olhos, tem nariz, tem boca, caminha e come e não toma rum e vai dormir mais cedo.”
(Ana María Jiménez, 6 anos)
 (p. 39)

“Humano feliz.”
(Jhonan Sebastián Agudelo, 8 anos) 
(p. 39)

“O que estou vivendo é criança.”
(Johanna López, 10 anos)
 (p. 39)

“Danificada da violência.”
(Jorge A. Villegas, 9 anos)
 (p. 40)

“Responsável pelo dever de casa.”
(Luísa María Alarcón, 8 anos) 
(p. 41)

Estas definições realçam como a lógica das crianças em relação aos signos é diferente daquela dos adultos. A primeira definição, de Ana María Jiménez, mostra que ela compreende "criança" como uma soma de partes físicas e comportamentais, selecionando no seu campo de escolhas características associadas a uma criança. Ana María organiza essas características de forma coesa, unindo-as numa frase completa, apesar de simples. Em outras palavras, a sua forma de definir “criança” demonstra um pouco das relações entre o paradigma (o campo de escolha) e o sintagma (o que já foi escolhido e dito) infantil.

O livro Casa das estrelas é uma entre muitas obras que ilustram que a linguagem é um sistema vivo, moldado pela subjetividade e pelo contexto, estando em conformidade com as ideias de Saussure sobre a arbitrariedade dos signos e a natureza social da língua.

Livros consultados: 

Naranjo, J. (2013). Casa das estrelas: O universo contado pelas crianças. São Paulo: Editora Foz.

Saussure, F. (2006). Curso de linguística geral (27ª edição). São Paulo: Cultrix.