É cada vez mais comum utilizar-se ‘dating apps’ para se conhecer alguém.
É um caminho mais fácil, mas será que é considerado batota? Ou até mesmo mais seguro?
A verdade é que a margem de erro diminui, porque há logo um conjunto de parâmetros que é possível ajustar aos gostos de cada um e dentro do que cada pessoa considera ser importante ou não numa curta ou longa relação.
Mas com isto surgem outros perigos, e o documentário ‘The Lie: The Murder of Grace Millane’ é um dos milhares de exemplos.
O documentário retrata um ‘tinder date’, de uma jovem viajante na Nova Zelândia, com um jovem local: foram jantar, beber um copo e acabaram a noite no quarto de hotel.
Vi este documentário no ‘MotelX’, o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, e saí da sessão sem palavras, num ambiente pesado e doloroso.
Todos naquela sala sentimos que podia ter sido connosco. Seja do lado da mulher por já terem cometido todos os passos iguais à jovem Grace, ou até mesmo do lado do homem, por saberem que já houve mulheres a estarem naquela situação consigo e obviamente não cometeram o crime. Mas o facto de “o plano ideal” ser cada vez mais possível, é angustiante. Até porque eu sei que não o faria, mas não posso confiar que todos os homens também não.
Claro que a probabilidade destes crimes acontecerem é baixa. Mas haver um caso, já é um caso a mais do que o suposto.
Mas impõe-se a questão: Teremos que deixar de arriscar e de viver a vida? Será que a culpa é das ‘datings apps’? Com toda a certeza que estes crimes já aconteciam, quando se conhecia alguém num café, bar ou até mesmo na rua. A verdade é que todo o cuidado é pouco, mas o medo nunca deveria ser o preço da nossa liberdade.
Estamos numa era onde a conexão é fácil e instantânea, mas onde a confiança se esvai numa linha ténue entre o desejo e o risco. Será que estamos a tornar-nos demasiado dependentes de filtros e critérios para definir quem vale o nosso tempo, esquecendo que o verdadeiro perigo, por vezes, reside na nossa própria vulnerabilidade e nas escolhas que fazemos?
Talvez o segredo não esteja em evitar arriscar, mas em fazê-lo com olhos bem abertos. Porque no final de contas, cada encontro é uma aposta, e a vida continua a ser sobre o risco da proteção, mas também sobre a beleza de dar certo.