Uma forma de se imaginar o nosso mundo é através de uma linha generalizada (Saussure, Ferdinand de, Curso de Linguística Geral) que, por sua vez, pode ser divida em dois a partir da abstração, ou seja, o mundo em que vivemos pode ser analisado por completo, porém somente se nos afastarmos dele, de modo que assim seja possível perceber que nele existe uma ruptura linear entre o Mundo Simbólico e o Mundo Real. O Mundo Simbólico pertence ao mundo da linguagem, aquilo que colocamos significados, enquanto que o Mundo Real pertence ao natural, e portanto aquilo que foi dado um significado, mas que, no entanto, já existia antes da linguagem.
O filme Matrix de 1999, apresenta um claro exemplo dessa filosofia.
O personagem principal Thomas Anderson, interpretado por Keanu Reeves, no início da trama, é dado duas opções: permanecer alheio à verdade do seu mundo, ou descobrir o que estava por trás do “véu”. Anderson escolhe a segunda opção (pois se não não haveria mais história para continuar o filme) e, por conta disso, acorda de um sono profundo e se vê literalmente fora do próprio mundo, podendo literalmente abstrair da sua realidade para, simultaneamente, analisá-la.
Esse personagem, junto de seus companheiros, então se tornam os únicos seres humanos a analisarem o mundo em que vivem de forma totalmente “pura”, em outras palavras, conseguem visualizar os dois mundos lineares de Saussure sem a distorção causada pela proximidade dessa realidade em questão. Pois para Saussure a única forma possível de realmente perceber o mundo a nossa volta, seria de analisar esse mundo de forma afastada, em terceira pessoa, objetivo que só pode ser comprido em totalidade através do exemplo do Matrix, em que os personagens literalmente saem da própria realidade, para analisá-la de forma inteiramente externa.