(As we lay down, your head on my chest, a sunflower behind your left ear; I feel ashamed for something that wasn’t my fault. Suddenly, a curious thought comes to my mind: maybe I didn't have a childhood — I dreamt it all.)
Esquece a fome e vem comigo ver
navios. Faz hoje um ano e meio que te matei com os lábios.
Espreito-me no espelho
desconfiada e assusto-me com o espaço que amiúde me ocupas nos braços como que
estranho quando cá não estás. Debalde tento puxar-te dessa penumbra mas tu
agarras-te ao ontem com unhas e dentes. Pergunto-me sempre Será que foi alguma
coisa que disse que fiz que sou — nunca te satisfarei. Ou é porque um calor até
aos miolos ou um frio que te enregela os ossos ou uma tristeza sem explicação.
Percorres descalça de uma ponta a outra a extensão do frio, magra e da idade
que tens, como de resto não poderia deixar de ser. Sabes: essa dor não te fica
nada bem. Não combina com os teus olhos. Mas como já é hábito tu não dás
importância a nada do que eu te digo e descansas-me em cima do peito,
benfazeja, falsa.