quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Símbolos Visuais da Cortina de Ferro

A “Cortina de Ferro” surgiu como um símbolo de divisão durante a Guerra Fria, simbolizando a fronteira ideológica e física que — e, de certa forma, ainda — separa a Europa Oriental da Ocidental. As representações visuais dessa divisão não apenas reforçaram as narrativas geopolíticas, mas também moldaram a perceção popular no mundo, que retrata o Leste Europeu como um espaço de mistério, perigo, e opressão. A cultura visual ocidental, através de uma ampla variedade de media — incluindo cartazes, fotografias, filmes, e publicidade —, contribuiu para a criação de uma linguagem simbólica que definia e, por vezes, caricaturava a rivalidade “Oriente vs. Ocidente”.


Na propaganda ocidental, a Cortina de Ferro simbolizava o limite da zona de prosperidade e liberdade do mundo ocidental. As imagens de um Europa Oriental austera, sombria, e desmoralizadora, onde a liberdade era sufocada por governos autoritários, intensificavam a divisão, mas também a simplificavam, apresentando o Bloco Oriental como uma entidade monolítica, desprovida de individualidade ou nuance cultural. Toda a Europa de Leste era caracterizada como uma espécie de prisão, com os seus habitantes ansiosos por atravessar para a "terra prometida" — o mundo ocidental.


O Muro de Berlim, como uma manifestação física da Cortina de Ferro, tornou-se um dos símbolos mais icónicos dessa divisão. A cultura visual em torno do Muro evoluiu temporalmente, com o envolvimento direto de artistas, ativistas e fotógrafos. A grafite no lado ocidental do Muro, por exemplo, transformou o concreto num símbolo de resistência e liberdade, contrastando fortemente com a fachada cinzenta e intocada voltada para Berlim Oriental. Os anúncios de publicidade ocidentais também exploraram o Muro, utilizando-o para promover não só produtos mais também os ideais ocidentais de liberdade e escolha.


A perceção cultural da Europa de Leste mudou após o final da Guerra Fria, com a ideia de que, até o final da década de 2010, de que a região tinha alinhado-se com os ideais ocidentais e estava em processo de desenvolvimento. No entanto, o recente conflito entre a Ucrânia e a Rússia trouxe novamente a tona os problemas geopolíticos da região, revivendo uma nova versão da Cortina de Ferro, que já deu e certamente dará origem a novos visuais que irão definir o século XXI.


Por outro lado, recentemente as “estéticas” do Leste Europeu pós-soviético, passaram a ser romantizadas pelas gerações mais jovens nas redes sociais, que veem artefatos do brutalismo, da moda, da música, e de paisagens pós-industriais, antes vistas como símbolos de decadência e de uma história conturbada, como algo "exótico" e "autêntico". A caracterização do Leste Europeu feita pelo Ocidente ironicamente passou a ser vista por muitos como algo intrigante, atraente, e esteticamente interessante, ainda que estas visões atualmente já não se apliquem de maneira relevante a uma grande parte dos países do Leste Europeu.


Entretanto, as novas gerações, ao revisitarem estes elementos da história pós-soviética do Leste Europeu, substituem as velhas narrativas, e ressignificam esses elementos, que muitas vezes são propositadamente ignorados ou esquecidos, quando podem servir como ponto de reflexão para os desafios sociais, políticos e económicos que ainda moldam e irão continuar a moldar o Leste Europeu.