Nos últimos dias muito se tem falado do caso de Luigi
Mangione, que matou o CEO de uma mas maiores empresas de seguros de saúde dos
Estados Unidos. Este caso levou-me a refletir bastante num tema: será que a violência
é necessária para que haja uma revolução? Até que ponto estamos dispostos a ir
para defender o que acreditamos ser justo? Será que a violência, em certas
situações, é inevitável? E, se for, estaria justificada se o resultado final
trouxesse benefícios para a maioria?
Eu sempre pensei no direito que tenho ao voto, algo que
parece tão básico e garantido hoje, mas que, olhando para trás, sei que só foi
conquistado por meio de protestos, muitas vezes violentos. Esses movimentos forçaram
mudanças que hoje consideramos essenciais. Isso levanta uma pergunta: sem essa
violência, esses direitos existiriam atualmente?
Ao olhar para a história, encontramos exemplos que nos
forçam a encarar essas perguntas. Penso na Revolução dos Cravos. Foi um momento
extraordinário, um marco em que Portugal pôde se libertar de uma ditadura sem
que uma gota de sangue fosse derramada durante o movimento. Parece o cenário
ideal, mas mesmo ali, a liberdade só chegou depois de décadas de sofrimento e
resistência silenciosa, um facto que não podemos ignorar.
Mas nem todas as revoluções seguiram esse caminho. A
Revolução Francesa, por exemplo, trouxe conquistas imensas para a humanidade —
liberdade, igualdade, direitos fundamentais. Mas o custo? Guerras, violência,
vidas perdidas. Da mesma forma, as lutas anticoloniais na África, que conquistaram-lhes
a independência, muitas vezes vieram acompanhadas de muita dor, destruição e mortes.
Olhando para esses momentos, fico dividida. É fácil admirar
os resultados e esquecer os meios. E parte de mim acaba por acreditar que, sim, os fins
justificam os meios — principalmente quando o resultado é uma mudança que
transforma as vidas de milhões de pessoas para melhor. Mas outra parte hesita.
Até que ponto podemos correr o risco de justificar qualquer ação em nome de um
ideal ou bem maior?