Os passos no corredor, o som característico da porta comum ao fechar-se, as conversas distantes e umas breves superficiais saudações… Ninguém quer incomodar ninguém, ser intrometido. Às vezes ouço gargalhadas de crianças do andar de cima, só ao fim de semana, e já me tornei familiar com a peculiaridade do espirro do vizinho de baixo. Contudo os seus nomes permanecem desconhecidos, só os conheço de vista…. Vivemos tão próximos, dividimos o mesmo espaço, mas somos estranhos uns aos outros. As palavras trocadas são poucas, quase automáticas, deixamos a interação pelo simples reconhecimento da presença do outro. O outro é reconhecido, mas não efetivamente encontrado.
Mudei-me
para este apartamento há um ano e, desde então, o tempo passou sem que surgisse
oportunidade espontânea de conhecer com quem o partilho. A forma de convivência
atual é a normalizada, contudo, revela-se para mim vazia e desconexa. A
proximidade física contrasta com a distância emocional, gerando uma inquietação
discreta, mas persistente.
Já tinha pensado sobre isto antes, mas foi quando o professor desta cadeira abordou o tema, que a questão realmente me despertou. Percebi que afinal se trata de uma experiência bastante comum. Decidi, então, dar um passo contra esta rotina de distanciamento. Vou fazer bolachas e distribuí-las entre os vizinhos. Embora a confeitaria não seja a minha especialidade, vejo esta iniciativa como uma oportunidade de criar um espaço de encontro, ainda que breve. Mesmo que a recetividade seja limitada, espero, ao menos, conhecer os seus nomes.