O Sonho Americano (American Dream) é uma das ideias mais influentes exportadas pela cultura visual dos Estados Unidos no século XX e ainda no século XXI. Este conceito, popularizado em 1931, pelo escritor e historiador americano James Truslow Adams, durante a grande depressão, promete ao proletariado prosperidade, liberdade e mobilidade social em troca das suas contribuições para a sociedade capitalista americana, e foi amplamente representado em diversos meios visuais, incluindo cinema, publicidade, fotografia e arte. Essas representações moldaram não apenas a identidade cultural americana, mas também as perceções globais sobre os Estados Unidos, servindo como uma forma de propaganda, e incentivando que milhões de pessoas deixassem os seus países de origem e fossem a procura desta promessa na America.
Imagens de casas suburbanas com gramados impecáveis, famílias nucleares, felizes ao redor de mesas de jantar e carros novos estacionados nas garagens tornaram-se ícones visuais da promessa do sonho americano. Na publicidade, produtos como eletrodomésticos e automóveis eram apresentados como símbolos de sucesso e pertencimento ao American Dream. A promessa implícita é que o consumo não só traz conforto material, mas também valida a identidade da classe média e reforça à liberdade pessoal, que está assente em poder escolher entre várias opções nas prateleiras das lojas, onde cada escolha simboliza um ideal diferente que contribuí para a formação da individualidade do consumidor.
Com o advento da globalização, filmes de Hollywood, programas de televisão, músicas e videoclipes, e as marcas americanas e as suas campanhas publicitárias, efetivamente exportaram o American Dream para o mundo todo, e apresentaram os Estados Unidos como uma "terra prometida", especialmente durante a Guerra Fria, em que imagens de arranha-céus, como o Empire State Building, as cidades de Nova Iorque, Los Angeles, São Francisco, e Chicago, e os subúrbios ensolarados com famílias bem-sucedidas e felizes tornaram-se sinônimos de progresso e oportunidade em contraste com os símbolos visuais sombrios de blocos de apartamentos cinzentos e filas de pão que foram associados a esfera de influência Soviética pela cultura visual ocidental.
Entretanto, ao mesmo tempo que o sonho americano era promovido, artistas e fotógrafos documentaram as suas falhas e contradições. Durante a Grande Depressão, imagens como Migrant Mother (1936) de Dorothea Lange, evidenciaram as dificuldades enfrentadas por milhões de americanos que ficaram excluídos dessa promessa. Mais tarde, na década de 1960, as obras de artistas como Gordon Parks e Andy Warhol exploraram respetivamente as desigualdades raciais e a superficialidade do consumo associadas ao sonho americano. O contraste entre a iconografia aspiracional que predominava nos media em massa e as realidades sociais que foram gradualmente desafiadas pela fotografia documental, a arte visual e audiovisual tornaram-se centrais na desconstrução do mito do American Dream.
Na contemporaneidade, a cultura visual continua a explorar este conceito, agora sob uma lente mais fragmentada e, muitas vezes, irónica. Nas redes sociais, a estetização do sonho americano permanece viva, aliada muitas vezes a chamada "hustle culture", que promove o trabalho em excesso, e a ideia de atingir o sucesso por quaisquer meios necessários, um indício de que o sonho americano está mais difícil do que nunca de ser atingido. Contudo, essa mesma plataforma também dá espaço para críticas, que hoje são feitas muitas vezes através de memes, vídeos no YouTube, ou TikToks, elementos centrais da cultura visual associada aos Millennials e a Geração Z, que em grande parte já vêm o American Dream como algo do passado.
