Quase te perdia entre as sebes altas, virgem, tarde, sem nada nos bolsos que não esta amizade de prender ao porta-chaves para que nunca se perca entre as coisas lá de casa.
Penso: comer a lua; beijar-te os olhos fechados. Meter-te os dedos no sexo aberto fugaz.
Sento-me à beira da tristeza branca e espero que me digas algo bonito. Ouço-te falar alegre sobre o anjo pequenino que amiúde te visita ao fim da tarde. Debalde afago-te atrás da orelha esquerda e peço-te: quando morreres, faz o favor de me avisares, para dar baixa de uns documentos em atraso aqui na pasta do Inferno. A cadência destes abraços de semáforos vermelhos e silêncios já me cansa.
Observo as pessoas de dizer olá e adeus à entrada e à saída de um museu de dias iguais a desfocarem na distância de um intervalo onde, de resto, sempre ouvi dizer que a vida, ou o amor, se faz — muito ocupadas e pontilhadas demais para sequer conseguirem falar. Alguém chama pelo meu nome na multidão, mas não sou eu. Penso: faz tanto Sol aqui deste lado de mim. Quem me dera que aqui estivesses para me encheres desse teu céu de maio. E eu, que quase te perdia entre as sebes altas, e te peguei pelo cachaço com as mãos da saudade, quase como se voltasse a ter quinze anos de repente, penso: aulas de matemática físico-química história artes visuais; aborreço-me e, ato contínuo, imagino-te as pernas os braços tudo — que seria de ti afinal se não te ideasse de vez em quando — enleio-me na tua nudez que não o é (nunca o foi, nunca o será) e adoro quando te fazes de difícil, mais ainda quando és fácil: faço-te festas no dorso como se faz aos animais de casa quando se portam bem. Penso: chorar em público, apaixonar-me, adoecer; deitar-me de borco à espera. Um poema por dia, sete a cada semana que passa; amansas-me as palavras com essa tua calma de madrugada de mãos dadas e segredos. Penso: gosto invariavelmente mais de ti. Os teus olhos são um mundo dentro de um mundo. E eu vejo-me neles, e tu nunca te verás nos meus castanho-escuros. E, por último, penso ainda: se me dessem a escolher entre um anjo e um artista, escolher-te-ia a ti na mesma.