Era mais um dia banal na minha vida, a sair da faculdade, a descer as escadas infinitas do metro, quando me deparo com uma situação caótica neste mesmo local. Turistas confusos, pessoas impacientes e os respectivos trabalhadores do metro a impedir a entrada em duas vias de cancelas. Havia apenas duas cancelas individuais para entrar nas linhas de metro. Estranhei, afinal porque é que tiveram a brilhante ideia de impedir a passagem de pessoas à hora de ponta? Passei numa das duas cancelas disponíveis e dirigi-me à linha do metro, na qual, havia uma multidão imensa tanto em pé a ocupar o longo corredor, como também sentada nas escadas…quando oiço o seguinte aviso: “devido a incidente com passageiro, a circulação está interrompida.“ Automaticamente, pensei no pior que poderia ter acontecido envolvendo um passageiro e uma linha de metro…e consequentemente, percebi a razão pela qual o caos estava instalado ali.
Nisto, procuro outra alternativa para chegar ao meu destino, contudo, intrigada pelo que poderia ter acontecido e curiosa para saber há quanto tempo a linha do metro estava impedida, tentei encontrar algum tipo de notícia na internet. Encontrei um comentário infeliz acerca da situação, algo do género: “Fogo, logo hoje que decidem atirar-se para a linha do metro. Não pensam nas pessoas que só queriam
ir para casa.”
Este comentário deixou-me surpresa, fez-me voltar a refletir sobre um assunto com o qual me tenho debatido recentemente e tenho notado na nossa sociedade, tanto no quotidiano e situações à minha volta, como na media em reality shows, séries e filmes…
A falta de empatia e o egocentrismo.
Como é que alguém acha boa ideia escrever e publicar este tipo de comentário? Quais são as razões provenientes para a falta de empatia na nossa sociedade?
Acredito cada vez mais, que a sociedade está a distanciar-se emocionalmente pelo uso excessivo de tecnologia. Para além de haver uma enorme falta de empatia pela situação, existe um egocentrismo em publicar este tipo de comentários para chamar atenção.
Como Marx descreve no conceito de alienação, o ser humano afasta-se da sua essência social e emocional. Nas redes sociais, esta alienação manifesta-se na indiferença perante o sofrimento alheio, transformando o outro em conteúdo para o digital ou um obstáculo à rotina.
Lá está a cultura do “eu”, o foco está em mim e como isto me afeta em vez do outro, por mais trágica que possa ter sido a situação. Conceito que penso que se tenha vindo a provar pelo uso crescente das redes sociais, onde o que importa é os outros observarem a vida de alguém e de certa forma, este beneficia dessa atenção, passando para uma posição de narcisismo.
Outra razão para a falta de empatia na sociedade, a nível geral, é o facto de vivermos rodeados de tragédias, guerras e sofrimento humano. Torna-se, infelizmente, comum ver e ouvir este tipo de acontecimentos e esta exposição constante cria uma habituação emocional. Já não nos afeta, já vimos acontecer anteriormente… A situação já não é alguém que se atirou para a linha do metro e sim mais um incidente que atrasa as nossas rotinas. Por conseguinte, esta empatia pode cansar, num mundo saturado de dor, muitos preferem reagir com a indiferença e serem ignorantes, ao invés de confrontarem-se com a vulnerabilidade humana.
O comentário que me chocou, não é apenas uma falta de sensibilidade individual de quem o fez, mas sim a consequência de uma cultura visual e digital que nos afasta de vivermos uma experiência humana e social direta.
Assim concluo, que a falta de empatia que vivemos é usualmente um produto social e não apenas um defeito ético e moral da nossa personalidade. As redes sociais tornam-nos pessoas apáticas e dessensibilizadas do mundo à nossa volta…