segunda-feira, 24 de novembro de 2025

A visão do mundo através do feed do meu instagram

Há umas semanas, depois de chegar de uma viagem à China, estou no metro a ver os insta-stories das minhas amigas que me acompanharam e apercebo-me do quão longe estávamos, mas de quão próxima nos aparecia a informação. Desde fotos das janelas do avião, comida tradicional, os templos que visitámos. Todos os registos de uma viagem de 12 920 km cabiam na tela do meu telemóvel. Apercebo me que o aqui e o agora dissolvem-se; perde-se o peso do original que vemos com os nossos olhos e, quando repostei algumas histórias em que fui identificada, dou conta que passa a existir uma série infinita de versões quase idênticas que vivem do seu valor de exposição.

Apercebo-me do meu papel enquanto intérprete diante do telemóvel. Não publico para uma sala em concreto, mas para um público invisível que me controla ainda mais pela sua ausência. Quando tiro fotos para postar, não procuro autenticidade, mas legibilidade. A legenda torna-se indispensável, já que, se não escrevo nada, a imagem parece pedir instruções.

O ritmo do feed treina a minha distração. Em segundos passo do protesto à receita, do desastre ao humor; cada corte interrompe a contemplação antes do seu começo.

Há momentos em que isto parece libertador. Posso aproximar-me do que estava longe: um arquivo, uma conversa, fotos antigas, tudo cabe na mão. Mas também me torno espetáculo de mim mesma: o eu que vive é o eu que se reproduz tecnicamente, perfeito porque editável, montável, melhorável. Entre alcance e captura, percebo a política miúda da atenção: não é só estética, é modo de pertença.

No fim, entendo que a imagem digital não é só registo. O que partilho já não é apenas memória, é versão. Entre o gesto de publicar e o gesto de ver, há algo que me ensina a ser legível, a ser vista, a pertencer. O feed não me mostra o mundo — mostra como o mundo se quer mostrar.