O fascínio pelo futuro não corresponde a um fascínio intrinsecamente contemporâneo. Desde a designada Idade Moderna, que terá começado no século XIX no seio da Revolução Industrial, o ser humano ganha um crescente interesse pelas novas invenções. Surgem as máquinas a vapor, que por sua vez criam os primeiros comboios, que por sua vez encurtam a perceção do tempo e da distância: a eficiência baseia o culto do progresso racional e de um domínio humano da natureza semelhante ao papel de um deus omnipotente. De facto, obras de arte literárias como Frankenstein de Mary Shelley aparecem como forma de problematizar o seguinte: será que o ser humano deve tentar (re)criar a vida, colocando-se assim acima da natureza? Esta questão é profundamente relevante no mundo contemporâneo, onde se discutem temas como o transhumanismo ou a ecologia. No entanto, podemos constatar a maneira como os processos pela qual criamos sistemas de signo e significado, que, num mundo onde o principal guia do ser humano não se trata de religião ou de política, mas de uma relação com a experiência estética, existem porventura de uma forma invertida com a proposição elementar de Saussure.
Ferdinand Saussure formula um sistema linguístico de alguma simplicidade: o signo corresponde ao suporte da palavra, enquanto o significado é a camada adicionada ao mesmo, que lhe atribui uma equivalência concreta ou conceptual. Este sistema pode ser transladado ou equiparado à maneira como os seres humanos atribuem uma carga arbitrária a um gesto ou objeto, ditando-se assim cultura quando esta é transmitida de geração em geração.
Roland Barthes apropria-se desta formulação de modo a aplicá-la ao domínio das imagens, que admite como tendo uma retórica própria. Esta retórica pode ser desconstruída através da "leitura" de uma mensagem que poderá ser linguística, icónica e codificada, e icónica não codificada. Barthes utiliza um anúncio para enunciar estes tipos de mensagem: a linguística corresponde aos caracteres que informam enfatizando; a mensagem icónica codificada corresponde às associações culturais que certos elementos visuais suscitam em nós; a mensagem icónica não codificada remete para a identificação imediata de certas formas. No entanto, esta última assemelhar-se-á ao signo, e não ao significado, uma vez que as formas remetem diretamente para a sua própria representação, no seu caso concreto, a fotografia, que transcende o seu papel de medium para se tornar a sua própria razão de existir, ou o seu significado.
O modo contemporâneo de existir na realidade mostra-se profundamente de acordo com esta conceção. A criação de categorias, distinções e meta-análises pela qual nos designamos e identificamos tornam-nos autênticos fantasmas do imaginário. Criamos Arte com o conceito de Arte em mente, vestimos roupa que para nós está já associada a uma certa ideia com que nos identificamos, tornamo-nos sujeitos sendo outros sujeitos, comemos e somos o que comemos. O nosso corpo não é um signo e as imagens um significado. Esta relação terá sido invertida de modo a que nós nos teremos tornado representações produzidas em massa.
Quando pensamos no futuro, nos autómatos que nos parecem ameaçar, podemo-nos questionar se eles não serão iguais a nós, de uma forma mais evidente e aperfeiçoada. O Pós-humano, como se pode chamar a esta existência, não se reduz à téchne ou dominação das forças naturais. Trata-se da substituição do espanto primordial pela recriação por imagem.
E, afinal, o que somos nós senão imagens?