segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Pedir permissão para falar:

        - A Ideologia

Não é incomum uma pessoa questionar-se, a algum ponto da sua vida, porque é que em diversos contextos em que se encontra e se encontrará a partir desse momento, tem uma obrigação, a qual pode considerar de carácter moral, de levantar a mão, o braço, o dedo, para pedir permissão para falar.Aliás, desde pequenos, gostamos de questionar esta regra de sala de aula, já que vai contra a nossa enorme vontade de socialização.


É um gesto cordial, respeitador, elegante, pois a justificação usualmente é que este ato é necessário para a coordenação e ordem em sala de aula, ou em qualquer outro local. 

Isto não é necessariamente mentira, o facto de existir um intermediário entre a ação de pensar e de falar, de certeza que faz cair a quantidade de possíveis intervenientes no momento, e, os que participarem, expressar-se-ão de forma realmente mais ordenada, já que apenas falará um de cada vez, permitindo uma melhor expressão do orador, e entendimento do ouvinte.

Mas isto é apenas uma consequência consideravelmente positiva que advém de um instrumento ideológico maior.


No fundo, está aqui implícita uma ideologia já não recente, a de que perante um vasto número de indivíduos, estabelece-se no alto (literal ou figurativamente) um, ou pouco mais que um, orador. E que este, no cume da sua sabedoria, ou experiência, prega o seu conhecimento aos demais.

Ora, como já mencionei, este sistema não é necessariamente mau, mas é fundamentalmente seletivo e opressor. Tal como a PSP prevê a Manutenção da Ordem Pública. Seria de pensar que a ordem é algo bom, não? Mas, a quem é que interessa que as massas estejam ordenadas? A quem está no poder. 


Independentemente da ideologia política em que se reveja ou finja rever, é a quem está no poder que beneficia a Ordem Pública, e é a quem está no poder que beneficia existir um ato de educação tão natural e óbvio (“obviedade primária”) quanto pedir permissão para falar; por conseguinte, expressar as suas ideias, e possivelmente, desafiar as ideias instaladas, ou seja, mudar o sistema que rege a sociedade.


Assim, apesar de existir uma relação de benefício, em situações diárias, na existência de ordem, que torna o nosso convívio mais calmo e fruitivo, é notório que muitas vezes as melhores ideias surgem do caos.