quarta-feira, 19 de novembro de 2025

"Persona" de Ingmar Bergman

 

           Seguindo o primeiro comentário que publiquei no blog, “A moda como manifestação da arbitrariedade cultural”, decidi dar seguimento neste segundo comentário, com o segundo princípio formulado por Ferdinand de Saussure, o princípio da linearidade do significante.

Este afirma que o significante, ou seja, aquilo que representa o signo, seja por exemplo um som, uma palavra ou até uma imagem, desdobra-se obrigatoriamente de forma linear, isto é, numa sequência temporal ou espacial contínua. Portanto, não é possível ler dois signos simultaneamente, já que estes pertencem sempre a uma cadeia, onde cada elemento só adquire significado através da sua posição relativa aos outros.

Para que o sentido exista, a linearidade é uma condição fundamental, visto que o significado não surge de um único elemento isolado, mas da forma como cada signo se encadeia dentro de uma sequência. Se se der a alteração da posição de apenas um elemento, o significado pode mudar completamente.

Assim sendo e, considerando um dos meus filmes favoritos, “Persona” de Ingmar Bergman, esta reflexão tornou-se particularmente evidente. Este filme é profundamente marcado por silêncios, fragmentos e repetições, que evidenciam a natureza linear da construção de sentido. Nada é dado de imediato ao espectador, pelo contrário, o significado é tecido gradualmente através da sucessão de olhares, gestos e pausas.

Podemos observá-lo quando, no filme, se dá o silencio de Elisabet, uma as personagens, este que não apresenta um significado fixo ou imediato, mas que vai ganhando profundidade pelo modo como este se prolonga, pelo contraste com a fala de Alma, outra personagem, e principalmente pela forma como se inscreve na linha temporal do filme.

“Persona” revela que o significado não reside nos elementos isolados, mas sim na posição que cada um ocupa dentro de uma cadeia narrativa e simbólica.

As imagens, tal como os signos linguísticos, exigem uma leitura sequencial: o espectador interpreta a história através das relações que se estabelecem entre os momentos, e não através de cada momento em si. É exposta a vulnerabilidade dessa linearidade, quando a sequência é interrompida, fragmentada ou subvertida, como por exemplo, em momentos em que a película “queima” ou até mesmo pela sobreposição das identidades das personagens, o que demonstra que o sentido se torna instável.

 

Deste modo, “Persona” de Bergman e o princípio da linearidade do significante convergem na ideia de que o significado é sempre uma construção progressiva e a sucessão temporal dos signos, que possibilita que o seu sentido aconteça.