Seguindo
o primeiro comentário que publiquei no blog, “A moda como manifestação da
arbitrariedade cultural”, decidi dar seguimento neste segundo comentário, com o
segundo princípio formulado por Ferdinand de Saussure, o princípio da
linearidade do significante.
Este
afirma que o significante, ou seja, aquilo que representa o signo, seja por
exemplo um som, uma palavra ou até uma imagem, desdobra-se obrigatoriamente de
forma linear, isto é, numa sequência temporal ou espacial contínua. Portanto,
não é possível ler dois signos simultaneamente, já que estes pertencem sempre a
uma cadeia, onde cada elemento só adquire significado através da sua posição
relativa aos outros.
Para
que o sentido exista, a linearidade é uma condição fundamental, visto que o
significado não surge de um único elemento isolado, mas da forma como cada
signo se encadeia dentro de uma sequência. Se se der a alteração da posição de
apenas um elemento, o significado pode mudar completamente.
Assim
sendo e, considerando um dos meus filmes favoritos, “Persona” de Ingmar Bergman,
esta reflexão tornou-se particularmente evidente. Este filme é profundamente
marcado por silêncios, fragmentos e repetições, que evidenciam a natureza
linear da construção de sentido. Nada é dado de imediato ao espectador, pelo
contrário, o significado é tecido gradualmente através da sucessão de olhares,
gestos e pausas.
Podemos observá-lo quando, no filme, se dá o silencio de Elisabet, uma as personagens, este que não apresenta um significado fixo ou imediato, mas que vai ganhando profundidade pelo modo como este se prolonga, pelo contraste com a fala de Alma, outra personagem, e principalmente pela forma como se inscreve na linha temporal do filme.
“Persona”
revela que o significado não reside nos elementos isolados, mas sim na posição
que cada um ocupa dentro de uma cadeia narrativa e simbólica.
As imagens, tal como os signos linguísticos, exigem uma leitura sequencial: o espectador interpreta a história através das relações que se estabelecem entre os momentos, e não através de cada momento em si. É exposta a vulnerabilidade dessa linearidade, quando a sequência é interrompida, fragmentada ou subvertida, como por exemplo, em momentos em que a película “queima” ou até mesmo pela sobreposição das identidades das personagens, o que demonstra que o sentido se torna instável.
Deste
modo, “Persona” de Bergman e o princípio da linearidade do significante
convergem na ideia de que o significado é sempre uma construção progressiva e a
sucessão temporal dos signos, que possibilita que o seu sentido aconteça.