terça-feira, 25 de novembro de 2025

Relação do surgimento da inteligêcia artificial com o surgimento da fotografia

A produção de imagens com inteligência artificial tem provocado reações muito semelhantes às do  surgimento da fotografia no século XIX. Em ambos os casos, uma nova tecnologia visual rompe com formas tradicionais de criação e abala as certezas culturais sobre o que é arte, autoria e verdade. 

Quando a fotografia apareceu, muitos artistas receberam-na com fascínio e temor. A capacidade de registrar o real com precisão parecia extraordinária, mas ao mesmo tempo ameaçava o trabalho de pintores. O caráter “mecânico” levantou dúvidas sobre seu valor artístico e se poderia expressar subjetividade. Além disso, a possibilidade de reproduzir imagens em massa, de manipulá-las e de utilizá-las como prova da realidade confrontou a sociedade com novos dilemas éticos e epistemológicos.

Hoje, as imagens geradas por AI trazem esses mesmos debates ao de cima. A rapidez e o realismo destas imagens despertam receios entre fotógrafos, ilustradores e designers, que veem o seu trabalho confrontado por sistemas capazes de produzir resultados complexos em segundos. Assim como o surgimento da fotografia levou à discussão sobre o que é arte, a AI desafia as noções de autoria, originalidade e também o que é arte. A confiança na imagem como documento ou arquivo enfrenta agora uma crise ainda mais profunda com imagens “fake” e composições indistinguíveis do real.

Tanto no século XIX quanto no XXI, a sociedade vê-se obrigada a redefinir o lugar da imagem. A fotografia acabou reconhecida como linguagem artística e transformou radicalmente a cultura visual, sem eliminar a pintura, que se reinventou. De modo semelhante, a IA parece destinada a conviver com formas tradicionais de criação, provocando deslocamentos, adaptações e novas estéticas. O paralelo entre os dois momentos mostra que cada avanço tecnológico não substitui simplesmente o anterior, mas reestrutura a relação com as imagens.