quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Relacionamentos: Antigamente vs Hoje

Em Portugal, em cada 100 casamentos, ocorrem 70 divórcios, segundo a plataforma PorData, da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Os dados têm a ser vindo atualizados, mas desde o início do século XXI que o número de divórcios, mais do que duplicou, tornando Portugal no país com maior taxa de pedidos de divórcios da Europa (dados de 2016, segundo PorData).

Verdade seja dita: este aumento, aparentemente significativo, seria de esperar tendo em conta as mudanças legislativas relativas aos divórcios nestas últimas duas décadas (a partir de 2002, a lei que obrigava um divorciado a esperar 6 anos até se poder voltar a casar, alterou-se. Em vez de 6, passaram a ser 3 anos. Isto resultou numa maior vaga de divórcios. No entanto, em 2008, a lei voltou a ser reformulada - ao contrário dos 3 anos, passou a ser apenas 1 e o divórcio podia ser pedido apenas por um cônjuge - aumentando, de novo, os pedidos de separação); a crise económica de 2011 e as tecnologias, que nos passaram a consumir uma enorme parte de tempo livre e que constantemente nos distraem de investir em relações interpessoais que tenhamos interesse em cuidar.

Na minha opinião, todos os fatores acima (económicos, legislativos, tecnológicos) têm um grande peso na forma como a sociedade encara um casamento, atualmente.
Há 50/60 anos atrás, nada disto faria sentido. Não apenas pela mentalidade das pessoas, pelos valores defendidos pela sociedade e o próprio Estado, mas também por não existirem as facilidades e as distrações que hoje existem.

Sinto que as gerações mais novas, não têm qualquer interesse em casar-se devido às complicações que lhe advêm. Nos dias que correm, realmente não faz sentido nenhum, casar. As pessoas não vêem relações amorosas com a mesma mentalidade que antigamente. O mundo e a sociedade estão em constante mudança. Cada pessoa, cada um de nós está em constante evolução, constante mudança, constante procura, constante descoberta. Seja de nós mesmos, do mundo ou das pessoas que nos rodeiam.
Coisa que antigamente não era possível nem valorizada, ao nível que é hoje em dia.

Por esta razão, considerei este tema bastante relevante relativamente à Unidade Curricular de Cultura Visual porque ilustra a constante mudança, evolução e descoberta de cada ser como indivíduo único e especial; porque se interliga com as matérias abordadas nas aulas e porque é um tema que me interessa bastante, pois explora a complexidade da evolução do ser humano.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Mulher - Objecto



Num mundo capitalista e cego à ética e à moral, descubro diariamente como a integridade física e social das pessoas é brutalmente colocada na sombra dos interesses económicos.

Vim morar para Lisboa, quis então procurar um part time para poder juntar algum dinheiro. Foi nesta busca que me deparei com uma página do Facebook chamada “Hospedeiras de Portugal”, tinha bom feedback, dizia-se que eram trabalhos esporádicos, alguns deles potencialmente divertidos, curtos e bem remunerados.  Demorei menos de cinco minutos a perceber que era tudo o que eu não queria fazer, contudo, a curiosidade era tanta perante tal monstruosidade que o meu scroll ininterrupto durou quase duas horas. O conceito é simples, trata-se de uma página onde empresas procuram pessoas para promoverem os seus produtos ou eventos. Tudo parece estar bem até que surge o primeiro post:

HOSPEDEIRAS (morenas) para ação de promoção de chá:

Dias 08 e 09 Dez (Sábado e Domingo)
10h às 19h – 9€/hora
Formação obrigatória dia 07 Dez – Lisboa – manhã

PD SINTRA

Excelente imagem - altura superior a 1,75mt - excelente poder de comunicação”



Nem todas as publicações têm este carácter tão estrito e superficial, contudo, muitas delas foram aparecendo no meu feed com o mesmo tipo de abordagem:



“Aveiro

Rapariga para mascote

Requisito: mínimo 1.70 de altura”



“Altura obrigatória: entre 1,68 e 1,72
Medidas roupa S ou XS”



Ainda que a oferta de trabalho fosse maioritariamente para mulheres, haviam algumas propostas para homens, mas neste caso, os pré-requisitos eram bem diferentes:



“Reforço de promotores com espírito comercial, pro atividade, boa disposição, gosto por objetivos”



Muitas perguntas foram surgindo na minha cabeça: Porque é que 80% das ofertas de trabalho são direcionadas apenas a mulheres? Porque é que os pré-requisitos para mulheres são maioritariamente de características físicas e não de habilidades enquanto que para os homens, os pré-requisitos baseiam-se apenas na capacidade que estes deverão ter para dar resposta à tarefa que estão prestes a desempenhar? Como é que uma mulher se sujeita a ser alvo de objetificação desta maneira concordando em trabalhar para empresas que claramente valorizam mais a sua imagem do que as suas capacidades? Desde quando é que a exposição de um corpo feminino passou a ser marketing para a venda de um produto que em nada lhe diz respeito. Como pode a estratégia de marketing ser tão fria ao ponto de usar um modelo de corpo feminino para atrair compradores em vez de utilizar seres humanos simplesmente aptos à tarefa de venda? Cheguei então à triste conclusão de que a mulher é claramente vista como uma boneca insuflável na indústria. Sem identidade, sem personalidade, sem habilidades, mas com umas boas pernas e um sorriso bonito, pronta para acenar por quem por ela passa enquanto abana o saquinho que traz a quinquagésima versão dos mesmos queijinhos frescos da marca x, desta vez com uma embalagem diferente. Um belo naco de carne, o instrumento de venda perfeito, dando a oportunidade a todos os consumidores atraídos por tal aparência de se aproximarem tendo em mente intenções que se afastam largamente do interesse de experimentar os tais queijinhos. A mulher está ali, em pleno supermercado, de salto alto, provavelmente bem desconfortável, adicionando mais alguns centímetros aos seus 170 que, por si só já se afastam significativamente da estatura média da mulher portuguesa que, embora tenha vindo a crescer significativamente nos últimos cem anos, ainda ronda os 162 centímetros.  Antagónico, não é? Os pré-requisitos físicos necessários nem correspondem à norma da mulher portuguesa. Assustou-me também o facto de as publicações serem feitas maioritariamente de mulheres para mulheres, também elas completamente alienadas e cegas, sem qualquer sentido ético no trabalho que desempenham. A falta de sensibilidade na forma como tratam seres humanos é alarmante. Uma mulher que não corresponda a todos os pré-requisitos impostos por tais empresas, poderá vir a sentir, que não vale por si mesma, ainda que de forma inconsciente, senti que ,para a indústria, as mulheres são um objeto meramente figurativo e de cariz sexual. E aquelas que não apresentem as características irrealistas consideradas de mulher-ideal são inválidas ao serviço. Será que no meu futuro, não terei um lugar para mim tão facilmente como uma mulher mais alta ou mais atraente que eu ou um homem independentemente das disparidades das nossas capacidades?

Continuamos assim a estimular a nossa cultura sexista, onde a mulher é usada como fonte de prazer e satisfação do homem e não é perspetivada como um ser independente com valor intrínseco. Enquanto este tipo de abordagem não for renunciada pelas mulheres e homens que fazem ou que propõem este tipo de trabalhos, não será possível observar evolução na perceção que os indivíduos têm sobre a mulher e o seu papel na sociedade. Pela igualdade de género e por um futuro mais promissor, não podemos aceitar tal abordagem com tanta normalidade. Por quanto tempo mais deixaremos este tipo de atividade neutralizada? Até quando se estenderá a alienação do ser humano relativamente a este tópico? Como pode a sede de gerar dinheiro ser mais importante que o respeito pelo ser humano? Desumano. A mulher, em montra, não é mais coisa nenhuma senão um mero objeto estético e sorridente com um saquinho cheio de queijinhos frescos. É triste.










sábado, 8 de dezembro de 2018

O peso da sociedade


             Desde sempre que o cabelo tem muita importância na nossa sociedade. O cabelo comprido sempre esteve muito associado à força nos homens, tal como esteve associado à sedução nas mulheres. Vénus, a deusa do amor, tinha longos cabelos que exalavam um odor divino de Ambrósia. Na Grécia Antiga, os filósofos usavam cabelos longos e barbas densas como símbolo de sabedoria. Estes mini exemplos que referi são para mostrar a importância e o revelo que o cabelo tinha e ainda tem na sociedade de hoje, e salientar que muito disto vem das crenças e ideias de cada sociedade.
 O cabelo também está muito ligado à nossa autoestima e é neste ponto que me quero focar. Porque é que nos deixamos afetar tanto por algo tão supérfluo e que ainda por cima são padrões impostos pela sociedade? Cortar o cabelo para muitas das mulheres é um castigo devido aos receios que criam. Receio do cabeleireiro exagerar no corte, receio de não ficar bem com um corte diferente, receio de ter cabelos brancos e isso transparecer o peso da idade, receio de uma cor diferente não ficar bem, entre outros… Basicamente, receio de ficar feia. De perderem um dos seus melhores aspetos. Hoje em dia não são só as mulheres que dão imensa importância ao seu próprio cabelo, mas os homens também já metem tanto peso neste aspeto como as mulheres. Todos nós nos sentimos menos bonitos se estivermos num dia mau de cabelo e é a este ponto que me estou a referir. Para muitas de nós que temos cabelo comprido, cortá-lo pelos ombros traz imensas inseguranças e cada tesourada que se dá é 10% da nossa autoestima que vai embora.
Os nossos receios vêm todos dos padrões da sociedade. O padrão de antigamente em relação ao aspeto de uma mulher era serem branquinhas, cheinhas e loiras de olhos azuis. Hoje em dia tudo mudou. O padrão de hoje em dia recai imenso nas curvas de uma mulher, ao mesmo tempo que têm uma cintura fina e uma barriga lisa. Imensas raparigas têm vergonha de usar bikini na praia e de exporem o seu corpo dessa forma devido a esses padrões, outras passam a vida a fazer dietas para atingirem esse corpo “ideal” e muitas choram dias a fio por algum comentário maldoso vindo de alguém ou por algum comentário negativo que foi feito numa rede social. Muitas pessoas deixam-se calar a si e aos seus gostos pelo meio em que estão envolvidos por vergonha e receio da sociedade. Foquei-me nas mulheres, mas os homens também sofrem com as exigências da sociedade.
Em suma, a sociedade e os seus padrões têm imenso peso nas nossas vidas e na maneira como agimos quando deveríamos de ser nós a influenciar a sociedade positivamente de maneira a estas ideias serem todas transformadas para melhor. O que traz outra questão. O que é o melhor?


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

O pequeno (grande) poder


   Nos comboios, nos bares, no Médio Oriente, nas ruas, em casa, na cozinha, na América, nas escolas, na China, nos livros, nas histórias de encantar, em África, na política, na vida profissional, nos restaurantes, na Europa, esse gigante da evolução. Onde é que podemos encontrar a igualdade? Onde podemos encontrar o respeito pelo feminino? Nos sítios acima referidos não é, por certo. O poder propaga-se de geração em geração, esse poder que é a cultura, mas que cultura essa que louva o homem e despreza e diminui a mulher? É comum a todas as culturas a valorização do bom, da vida e do saudável, segundo Levi Strauss. Como é então possível que exista desigualdade, sendo que são necessários uma mulher e um homem para gerar algo bom, ou seja, a vida?

    Ora, o “segundo sexo”, aquele que é aparentemente o mais fraco, é o mesmo a quem são exigidos milagres, enquanto o primeiro pode simplesmente existir e já estará a ser aplaudido. “Deves ser bonita”, dizem os media, “uma mulher quer-se bonita e com um aspeto desejável”. “Torna-te desejável e chamar-te-ão nomes”, dizem as mães às filhas, preocupadas com a reputação das mesmas e com aquilo que a sociedade poderia pensar, se a saia fosse um palmo mais curta. “As senhoras não pagam esta noite a entrada”, dizem as discotecas e bares, objetificando a mulher e tornando-a apenas um isco. “Uma mulher tem que se dar ao respeito, se eu o fiz, foi porque ela estava claramente a mandar-me sinais”, dizem os violadores, defendidos pela justiça. Contradições diárias, o sexo feminino é diariamente bombardeado com informações diferentes e incongruentes. Esta supremacia masculina é transmitida através do quotidiano, através dos órgãos de comunicação social e da cultura, esse fruto da evolução humana que nós maldizemos e bem-dizemos sem termos exatamente palavras para descrever o fenómeno, já que até estas fazem parte do mesmo. O mais triste deste processo de alienação e de afastamento do que supostamente seria a civilização, o respeito, é a reificação da metade que também permitiu a evolução (notória através de casos de abuso justificados com base na interpretação subjectiva do sexo masculino de um dado momento, que se eleva a verdade absoluta), mas que não consegue sequer existir conceitualmente sem o masculino. “Um porco fêmea”. E porque não uma “porca macho”? Porque é que o nome naturalmente se utiliza no masculino e é o adjetivo “fêmea” que o define? O feminino não precisa do masculino para se definir, mas enquanto tudo à nossa volta indicar que o sexo feminino parece (ou tem?) que estar dependente da vontade volátil e circunstancial do sexo masculino para existir, que, por vezes, diz “Sê boa menina como as outras” e noutros diz “Sê diferente, sê tu própria, os homens gostam mais de autenticidade”, a supremacia masculina existirá sempre e a desigualdade manter-se-á.

    Por fim, a grande questão que se coloca é: Será possível parar o pequeno poder que todas estas afirmações aparentemente inócuas e proferidas por todos em todos os momentos contêm? Quantos séculos é que demora a (verdadeira) evolução?






Qué sucede coa bandeira española?

España é un Estado que sofre de crise de identidade pola resaca dunha mala xestión do seu pasado. Comprender a súa problemática a día de hoxe dende fóra é complexo. Por qué moitos dos españois non se sinten como tal? Por qué cada vez son máis os que, en nacións históricas como Catalunya, Euskal Herria ou Galiza abogan polo separatismo e a autodeterminación? Estas cuestións e moitas máis poderían resumirse nunha pregunta: por qué existe un rechazo público do seu maior símbolo de identidade: a bandeira?

A bandeira española é exhibida con orgullo en manifestacións anti LGTBI, en contra do aborto, en contra da inmigración, en contra da autodeterminación das nacións históricas do Estado español e, como non, en xuntanzas de franquistas e neonazis -ou como os chaman nuns medios de comunicación que acostuman a blanquear o fascismo: “nostálxicos”-. Pero, por qué gañou este simbolismo? A qué se debe o seu uso neste tipo de eventos?

Non hai moito tempo que España viviu case 40 anos de ditadura. Unha ditadura na que Francisco Franco Bahamonde, que de seguro hoxe en día apoiaría todas e cada unha das causas citadas no anterior párrafo, tivo a todo un país reprimido. Se alguén se amosaba públicamente remiso ao réxime, non lle quedaba outra que fuxir e exiliarse noutro país ou ser executado.

Este período foi seguido pola Transición á suposta democracia. A realidade é que Franco, antes de morrer e dar paso a esta etapa, nomeou a dedo a Juan Carlos I como rei de España. Este, a súa vez, nomeou presidente a Adolfo Suárez, histórico do FET y de las JONS. Os dous sentaron as bases do que ía ser o Estado español. Ao comezo, tomaron algunhas decisións, como non legalizar o Partido Comunista Español, que foi a maior forza da oposición durante a ditadura, ata abril do 1977 ou non permitir que se levase a referendo a forma do Estado, implantando así a Monarquía Parlamentaria. Hoxe aínda segue vixente e inalterada a Constitución española de 1978.

Todos estes feitos foron levados a cabo sempre baixo a mesma bandeira, a “rojigualda”, dúas franxas vermellas separadas por unha amarela. Despois da ditadura sustituiuse o águia franquista por un escudo monárquico. Ese foi o único cambio do símbolo que pretende unir a unha nación.

O feito de que, a 2018, a Xustiza española e o Goberno teñan presos políticos por realizar referendos ilegais, músicos condenados a cárcere por inxurias á coroa, humoristas imputados por soarse o nariz na bandeira, a Francisco Franco nun mausoleo aberto a visitas e congregacións de fascistas ou partidos de extrema dereita legalizados e permita o seu auxe no espectro político non axuda a que a poboación se sinta identificada co que, para moitas persoas, non deixa nin deixará de ser a bandeira do bando nacional. O emblema dos gañadores da Guerra Civil.

OBSERVA-(te)-(me)-(nos)

Estou atrasada, corro que nem uma louca, chego ofegante ao autocarro, cumprimento o condutor, sento-me e observo. Nada mais nada menos que a minha nova rotina repleta de responsabilidades, às quais tento esquivar-me. Mas eu sou nova, digo eu. 
Aposto que esta senhora que acabou de entrar no autocarro, perto dos seus quarenta anos, que pensa o mesmo..., que sou nova, que desejava voltar a ser tão nova, já fez o mesmo que eu. Agora, passado uma carreira a chegar aos quê? 20 anos, não se deu ao trabalho de cumprimentar o condutor do autocarro que apanha todos os dias, à mesma hora. 
Aquele senhor parece feliz. Cansado, mas feliz. Se calhar é do sono, eu também estou com sono. Pressupor que, ele faz o que gosta e está cansado porque, efetivamente, se dedica a algo para o qual trabalha todos os dias, deixou-me feliz. Ainda para mais cumprimentou o condutor.
E estas senhoras idosas que chegam aqui e parece que o autocarro é a casa delas? Conhecem o condutor, falam com ele como se o tivessem visto nascer, metem-se com toda a gente. Vergonha de falar com estranhos? Não lhes toca. Ter a atenção de nós, pessoas que vamos no autocarro, que nunca nos vimos, ou que nos vimos sempre, é para o que elas vivem. Quando ultrapassam os limites, os meus limites, sim (hei-de fazer uma lista com eles), aqueles que ninguém pode ultrapassar de manhã e aqueles que ninguém pode ultrapassar à tarde, ou sempre, é que a coisa podia complicar. Algo do tipo, estou sentada, há um lugar do outro lado mas fazem-se de coitadinhas e têm que ter o meu lugar. Por favor, isso é abusar da sua imagem de ex-trabalhadora árdua que fez tudo pelos seus filhos, que participou no 25 de abril, que lutou por direitos e que agora, por tudo o que passou, querer um desconto. Não há cá descontos, ou não haveria, se eu não fosse alguém decente a quem custasse andar a discutir por uma coisa tão estúpida como um assento dum autocarro (ainda que não deixe de ser um incómodo), mas há quem o faça, quem discuta.
Eu percebo, é o stress, o trabalho consome-nos, a rotina consome-nos, as pessoas consomem-nos, tudo nos consome e há que explodir. Imaginem ter uma carreira com quase 20 anos, sempre a fazer a mesma coisa, sem valorização alguma. Quer dizer, estudamos, temos ambição, e de repente as trocas voltam-se e quem comanda na nossa vida é o trabalho e não nós? Não se vive, vive-se a fazer-se por viver. 
E imaginem novamente, fazer parte dum movimento, de um certo tipo de resistência, de algo em que se acredita, de algo que motiva, de algo que se interpreta como "nosso" e de repente "ah, dá cá" *puff* alguém nos tirou isso, banalizou isso, ridicularizou isso. Algo que pedia a mudança agora tornou-se meramente banal, um "uau tenho que ser assim, tenho que ter isso, tenho que fazer isso", mais um "ai que giro" da sociedade. Passar por tudo isto, vá quer dizer, pede um desconto, às vezes não cumprimentar o condutor, pronto, até é justificável, mas sempre não.
E ter consciência que somos manipulados e não fazermos nada para mudar isso? Uau então, és um ser humano, supostamente livre, e deixas-te dominar pelas massificações, os media, o marketing e todas as segmentações a que ficas sujeito? Grande vida sim senhor. "Eu sei que isto são tudo estratégias de marketing" diz alguém supostamente consciente enquanto pega da prateleira do supermercado o desodorizante direccionado para o seu género... quer dizer, então cmon guys, uns cheiros são masculinos e outros são femininos, as axilas dos homens têm mais pêlos, precisam dum cheiro mais intenso, coitados, eles não têm culpa de não serem pressionados pela sociedade a fazer a depilação.... ups, outro tópico. Outro assunto, outro tema, outra injustiça, outra coisa marada que nos consome e que nós não conseguimos travar.
Somos uma sociedade, há que haver respeito, cooperação e compreensão, mas também precisamos de bater o pé, de dizer que não, de exigir que não.
E eu digo NÃO, ESTOU FARTA, toda a gente tem problemas, mas neste momento, neste autocarro, no anterior e no próximo, QUERO QUE CUMPRIMENTEM O CONDUTOR, sei lá, um bom dia/boa tarde/boa noite, um sorriso, um olhar carinhoso. Já pararam para pensar que a rotina dum condutor é fazer a nossa rotina acontecer? Se não viesses neste autocarro vinhas como? a pé? todos os dias? Imagina o cansaço que sentes agora, a quadruplicar. Pois bem, há que agradecer a alguém, ele é um igual... ele também trabalha para outros, todos nós. 
Não quero ser hipócrita, também já me senti tentada a nem sequer dizer nada ao condutor (principalmente quando estão com aquela cara de touro mal humorado), quer dizer, eu já o fiz de certeza, mas ao menos penso nisso, tenho a consciência disso, reflito sobre isso.



Cheguei ao meu destino, gostei deste momento, é a parte favorita dos meus dias cansativos.
Sei que amanhã..... novamente atrasada. Corro que nem uma louca para o comboio, o autocarro, o metro, o que quer que seja nessa manhã. Sento-me e Observo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Um olhar adequado à época


O que mais ecoa na época festiva do Natal é a conveniente fantasia capitalista de união e caridade. Uma fantasia submetida a um curto período de tempo, que funciona como uma manobra disfarçada para fazer o consumidor gastar, subindo-lhe no ego os valores de altruísmo. Esta fantasia assenta sobre vários pilares culturais, sendo um deles o cinema. Quando se pinta a ideia de uma noite em família na época natalícia, é imprescindível um filme de natal. Não é preciso ser-se cinéfilo para descodificar a mensagem por detrás destes filmes "felizes", inclusivos e acolhedores.
   Estes filmes representam pouco mais do que a comercialização do natal. As casas são saídas de catálogos, há um casal heterossexual branco vestido de verde e vermelho, crianças e, claro, um cão. Tudo isto para que a audiência possa sentir que vive o sonho americano durante 1 hora e pouco.  Estes filmes são claramente feitos para uma população segmentada: o típico público branco de classe média alta.Transmitem os valores tradicionais de família, dar ao próximo, e oferecem o consolo dos "milagres de natal". São filmes limpos para uma população alienada e automata. São desprovidos de profanação, atos sexuais, violência, não há política (evidente), não há guerra, quando há crimes, são risíveis e cómicos, veja-se o exemplo do franchise "Sozinho em casa" (que percorre 5 filmes, porque uma audiência submissa é uma audiência que se alimenta de mais do mesmo), pois todos esses problemas pertencem às pessoas de cor, aos que vivem na miséria, e aos não católicos. Quem é que nesta época tão casta e pura iria querer ver um filme sobre os problemas que há no mundo? Para fingir uma preocupação desmesurada e angélica não é necessário ver filmes sobre a realidade atual, basta doar à caridade, e não fazer mais nada.
  Inúmeros são os filmes de Natal que praticam 'blackface', e, a indústria cinematográfica americana não cessou de ser originalmente racista, como ilustra o filme A Christmas Story. (1983), no qual um grupo de chineses é repreendido por pronunciar mal canções de natal. Para o cinema, o Natal é de facto, A White Christmas (1954). Porém, isso foi no século XX, talvez a geração milenar procure algo mais do que o fútil entretenimento sazonal.

As novas tecnologias e o discurso artístico

De que forma é que as novas tecnologias de matriz digital têm ou não impacto na
formalização do meu discurso artístico?
É característica humana e comum ser-se social. As interacções pessoais e a projeção
própria de cada indivíduo é uma reflexão natural e as influências que exercem na nossa
construção são espontâneas. Não é diferente com o mundo da tecnologia, que desde a sua
evolução tem acompanhado o nosso crescimento até ao tempo em que vivemos. Para se ser
profissional é necessário ser-se tecnológico também e, quando não é necessário, é ainda assim,
uma mais valia e uma competência valorizada.
Deste modo, o impacto é óbvio e infalível. Como designer opero a minha arte através da
tecnologia, utilizo-a para pesquisa, inspiração, instrumento e lazer. Como pessoa e
individualidade, existe um esboço tecnológico aparente que me reflete nas conhecidas redes
sociais ou sites de divulgação de trabalhos. São um agente de mim mesma e ajudam a partilhar o
que me compõe e quem sou, pessoal e artisticamente. Logo, formula o meu discurso no sentido
em que é impossível separar o que sou, da experiência e da minha presença e relação com a
tecnologia dado que não comunico apenas a informação imparcial que pretendo ou que me é
pedida, comunico-me também a mim mesma através de um instrumento tecnológico, quer seja a
um computador, internet, entre outros.
Por fim, é possível concluir que a tecnologia é autora da sua própria era, expressando uma
nova relação do mundo com ele mesmo, fazendo de ponte no processo, ainda evolutivo, entre a
realidade, a sua faceta virtual e as recentes formas de pensamento. Surge a arte tecnológica,
devendo, desta forma, o artista gerir e usufruir o melhor possível da tecnologia em prol da sua
arte.

Só vim falar de calças


As calças. Hoje em dia usá-las não significa, aparentemente, nada, mas em tempos esta simples peça de roupa gritava revolução. Antes da Revolução Francesa revelava-nos a vida árdua e trabalhosa de quem as usava e, durante a mesma, as calças tornaram-se o símbolo dos revolucionários, os sans-culottes. A partir daí o seu uso foi-se normalizando, gradualmente, e pessoas de classes mais altas começaram a usá-las. Contudo a sua utilização não foi totalmente generalizada, continua a ser considerada uma peça de roupa masculina.
Não foi até aparecerem as calças de ganga, no final do séc. XIX, que o uso das calças se difundiu ainda mais; não importava a classe social ou o género do indivíduo, todos as usavam. Os elementos de vestuário estão divididos entre masculino e feminino (o que é aceitável uma vez que a forma do corpo é diferente), contudo encontramos sempre mais variedade de modelos para as mulheres. E parece que para as mulheres todas as peças vêm ainda com uma imposição ou requisito anexado. Para os homens temos algo do género: “Há aqui três modelos diferentes de calças, escolhe as mais confortáveis e que mais gostes!”. Já para as mulheres as regras de escolha são um bocadinho diferentes… És muito magra? Devias usar estas calças! És gorda? Tens que usar este modelo! Tens barriga e ancas largas? Não temos um modelo que te sirva. Tens um rabo pequeno? Usa estas calças push-up!
Em geral, a roupa de senhora é mais apertada, mais reveladora e mais desconfortável que a de homem, mas as calças ilustram melhor este flagelo. São sempre mais justas e, mesmo os modelos “largos”, pretendem realçar alguma coisa no corpo feminino; nunca se está apenas a vestir umas calças, tem de se exibir algo. Já para não referir o típico caso dos bolsos. Os bolsos das calças de homem parecem o bolso mágico do Doraemon, enquanto nas de mulher quase nem cabe um pacote de pastilhas. Isto é, quando têm bolsos sequer.
Apesar de as calças serem para todos ainda temos presente a ideia de que quem trabalha é que usa as calças e que estas são roupa de menino, enquanto as saias é que são roupa de menina. Todos conhecemos a velha expressão “Quem usa as calças lá em casa?”, que é como quem pergunta “Quem é que manda lá em casa?”. Hoje todos usamos calças, mas nunca vamos usar as mesmas. As mulheres ficaram com as calças pré-revolução, isto é, trabalham mais, recebem menos (cerca de 16,7%) e ficam com os trabalhos mais precários. Já os homens vestem as calças modernas, ocupando cargos mais altos, ganhando mais e acumulando menos horas de trabalho doméstico.
Parece que para as mulheres as calças são sempre fabricadas com segundas intenções, inúmeros pré-requisitos e preços que não combinam com o tamanho dos bolsos. Enfim, ficamos sempre com os bolsos mais pequenos, até no mundo têxtil ficamos a perder.

Falso feminismo

Focando-me apenas no feminismo nos países mais desenvolvidos, mais precisamente na sociedade ocidental, noto que o feminismo tornou-se algo um quanto hipócrita. Com isto digo que sou totalmente a favor de igualdade de ambos os géneros, só não me considero feminista no feminismo atual.
O feminismo surgiu para que houvesse igualdade entre ambos os géneros, primeiramente lutando por direitos como o direito ao voto ou o direito de possuir bens, mais tarde com o direito ao aborto, por exemplo. 
No entanto, nos dias de hoje, estamos no que chamam ''the third wave of feminism'' sendo ela uma suposta continuação da ''second wave'' nos anos 60/70 ambas são muito distintas, pois as prioridades diferem bastante entre ambas. Muitas mulheres que se consideram feministas chegam até a dizer que ''se não fores feminista, então serás contra a igualdade de género e o progresso da mulher em termos sociais''. Em alguns casos até para ser ''aceite'' nessa comunidade devem se regir por opiniões políticas que são consideradas ideiais, como o aborto ou até ser liberal. E claro se não te identificares com tais parâmetros não serás visto como feminista. 
Para não falar, e digo isto não em todos os casos claro, de toda a discussão relativamente ao homem branco, ou até homens no geral. Em muitos casos chegam até a ridicularizar homens como sendo criaturas que só pensam em sexo e até colocando as mulheres como superiores. Isto parece-me relativamente hipócrita, porque está contra todos os príncipios fundamentais do feminismo. Em muitos casos, o feminismo, hoje em dia, tornou-se (infelizmente) num movimento de superiorização da mulher em relação ao homem, mais especificamente ao ''homem branco''. Cheguei até a ver uma entrevista em que uma mulher relata que um homem, ao vê-la chorar, foi até ela para perguntar se estava tudo bem, e ela maltratou-o e ainda disse que ele teria segundas intenções por ser homem. 
Com isto, digo que o feminismo deixou de existir tal como o conhecíamos em tempos anteriores, em alguns casos até lutando por desigualdade, algo que se define como femismo e não feminismo.


O que é fabricado como prioridade na vida.


O objectivo deste texto é refletir como a época do aparecimento das estrelas de Hollywood levou um determinado grupo de indivíduos a cultivarem uma falsa personalidade, e a quererem fazer-se passar por ricos através do consumismo, valorizando mais a sua falsa vida, cultivando a personalidade de um individuo inventado, em vez de cultivar a sua própria personalidade, e o que leva a que este fenómeno se continue a manifestar nos dias de hoje.
O aparecimento das estrelas de Hollywood, suscitou nas massas um interesse pela vida destas estrelas de cinema que eram tão conhecidas e ricas, este interesse por parte das massas na vida de indivíduos que aparentemente tinham tudo o que se poderia desejar na vida, dinheiro, felicidade e fama, levou à criação de conteúdos dedicados à vida destas estrelas, que expunham partes da sua vida em troco de dinheiro, criando assim um produto que era imediatamente consumido pelas massas. Esta curiosidade eventualmente começou a criar nos consumidores, um sentimento de inveja e uma idolatração por aquele estilo de vida, que julgando pela forma como era apresentado, era um estilo de vida sem um lado negativo, a mensagem era tão eficaz e a apresentação do conteúdo tão bem feita, que uma parte dos consumidores deste tipo de produto começou a tentar imitar o estilo de vida que lhes era apresentado, na esperança de conseguirem alcançar os mesmos resultados.
Esta tentativa de imitação, levou indivíduos a acumular dívidas para poderem comprar bens materiais que estavam acima das suas posses, pois a criação e manutenção de uma personalidade falsa que era baseada na imitação, na aquisição de bens materiais que não tinham grande utilidade, tornara-se mais importante, do que tentar melhorar quem verdadeiramente eram (o que é real) e crescerem como indivíduos. Esta idolatração por um estilo de vida que está fora do alcance do indivíduo, e a manutenção de uma personalidade falsa em vez da verdadeira, não é algo exclusivo da época, é algo que continua nos dias de hoje, sendo que é bastante predominante nas redes sociais e em cidades como Miami, onde existe um mercado de stands de carros de luxo, que permitem pessoas sem capacidades financeiras de comprar um destes carros, poderem alugar os mesmos por uma determinada quantidade de tempo, para fingirem ter uma vida que não têm e cultivarem uma personalidade falsa.
É importante tentar perceber o que pode motivar uma pessoa a tentar, ser alguém cuja a personalidade é definida por um estilo de vida, em vez de definir o seu estilo de vida consoante a sua personalidade, fazendo assim com que a personalidade seja uma criação do estilo de vida. As razões podem ser várias desde a inveja, a existência de programas que publicitam uma vida de luxo inalcançável a muitos, desejos de alcançar a fama, uma falta de direcção e propósito na vida que acaba por ser preenchida de uma forma errónea por bens materiais e a prevalência das redes sociais na vida da espécie humana.
Entre as possíveis razões enunciadas anteriormente, as mais prevalentes para que este tipo de comportamento continue a existir nos dias de hoje, provavelmente são, a falta de direcção e propósito na vida e o papel predominante que as redes sociais têm na vida do ser humano. Ter um direção e um propósito na vida são bastante importantes para o ser humano, é algo que como espécie tentamos encontrar quase que de forma subconsciente, mas não é algo fácil de se conseguir, o que pode levar alguns indivíduos a sentirem-se perdidos, o que os pode levar a querer preencher esse vazio que sentem por coisas supérfluas como a fama, bens materiais caros e comportarem-se como as celebridades ricas que são publicitadas nos media, pois esse estilo de vida aparenta trazer tudo o que se pode desejar. As redes sociais também têm contribuído para a permanência deste fenómeno, com o sistema de likes, que funciona quase como uma representação numérica da fama de uma pessoa, o que por sua vez cria no individuo o desejo de conseguir o máximo de likes possíveis, que se manifesta através da exposição nas redes sociais, de uma vida e personalidade filtradas, que só mostram o que tem maior probabilidade de adquirir likes, de forma a sentirem-se validados pela sociedade e que por vezes leva à criação de um vicio que pode prejudicar vidas.
Em suma factores sociais, culturais e pessoais, contribuem para a existência deste fenómeno que teve um grande aumento na época das estrelas de hollywood e que persiste na actualidade.

Black Friday


A Black Friday deixa o consumidor louco devido as promoções, tanto que estes estão dispostos a ficar em filas intermináveis, encontrões, quedas, gritos e por vezes até violência, tudo isto para serem os primeiros a entrar na loja e aproveitarem os descontos antes que se esgotem, o que leva a um consumo por impulso porque as pessoas só olham para a percentagem de desconto do produto, e como têm medo de perderem a “promoção do ano”, eles têm de decidir se vão comprar o produto em segundos, sem terem tempo para avaliar se necessitam ou não.  No instante em que o consumidor toma a decisão de comprar algo ele sente-se bem, envolvido por uma onda positiva. Mas de seguida, como acontece por vezes com o álcool ou drogas, essa sensação dá lugar a outra: um sentimento de culpa, que por vezes os pode levar a reproduzir o comportamento inicial. No melhor cenário a Black Friday irá os encorajar a gastar mais do que aquilo que deviam, na pior das hipóteses ira-lhes deixar pobres e cheio de dividas, indo para o ano nove sem nada, à volta de família e amigos que já se esqueceram daquilo que lhes comprou. O que muitas pessoas não se apercebem é que muitas destas promoções são falsas, aumentam o preço uns dias antes para que ao fazerem o desconto a percentagem seja maior, o que pode traduzir num desconto real muito inferior ao promovido, mas devido a este consumo por instinto as pessoas que não estão por detrás dos preços dos artigos não verificam se o desconto é bom ou não, ficam saciados pelo desconto e consumem sem pensar.
Concluindo a Black Friday é apenas um dia em que as pessoas deixam-se levar pelo consumismo, fazendo compras que não precisam, que são provocadas pela publicidade que leva os consumidores a consumirem por instinto.

Marketing e género


No nosso dia-a-dia deparamo-nos com inúmeros produtos criados ao detalhe para apelar ao nosso olhar. O seu objetivo final é, naturalmente, levar-nos a comprá-los. No entanto, um olhar mais atento sobre estes produtos e o modo como nos são apresentados pode dar-nos um conhecimento mais profundo sobre o marketing e, consequentemente, o modo pelo qual a nossa sociedade funciona.
De maneira quase impercetível aos nossos olhos, o marketing opera maioritariamente através de estereótipos – por exemplo, de idade, classe social e género. Gostaria de salientar este último, por parecer ser o mais enraizado e abrangente. É inegável a divisão de produtos direcionados para mulheres ou homens – de higiene a vestuário, de alimentos a brinquedos de crianças – assim como a publicidade acerca dos mesmos. Todos os dias passamos por montras, secções de vestuário, filas de produtos em supermercados, cartazes e anúncios em que esta separação e diferenciação está presente, embora não reparemos.
Enquanto que a noção de sexo é definida por um par de cromossomas – sexo feminino (XX) ou masculino (XY) – a noção de género foi construída socialmente. A conceção de género, segundo a nossa sociedade, tem a ver com o que significa “ser mulher” ou “ser homem”, estando relacionada com as ideologias da época e de épocas passadas, moldadas por crenças e opiniões. Os objetos não são seres vivos e consequentemente não possuem sexo – ou género, para que conste. No entanto, produtos com caraterísticas semelhantes ou até iguais são vendidos (e, muitas vezes, a um preço diferente) segmentados mediante estereótipos associados ao género. De igual modo o consumidor faz parte deste jogo, sentindo-se satisfeito ao comprar o produto com o qual se identifica independentemente do seu conteúdo ou qualidade.
         Há que relembrar que o marketing tipicamente considera o género enquanto binário apesar da questão de género ser muito mais complexa. Também é necessário ter em conta o modo como o marketing se aproveita da “progressão social” e do “politicamente correto” com a intenção enviesada de atrair mais consumidores, em diversas matérias.
A pergunta a fazer é, então, como acabar com os estereótipos? Os estereótipos influenciam o marketing, dando ainda mais poder aos estereótipos em si – levando a um ciclo de reforço de estereótipos, que moldam a nossa visão do mundo. Apesar da conceção de que esta situação “está a melhorar”, muitas das vezes dá-se apenas de uma maneira mais subtil do que antes. É necessário ter uma perspetiva crítica e nunca parar de questionar.